Fonte de energia inesgotável, o vento que sopra forte no litoral capixaba tem entrado cada vez mais no radar de empresas que buscam diversificar seus investimentos, e tem atraído até gigantes do petróleo, como a petroleira norueguesa Equinor (ex-Statoil).
A companhia, que já tem blocos de exploração de petróleo no Estado, pretende usar o mar capixaba também para gerar energia limpa, a partir de correntes de ar, na região de Itapemirim, no Sul do Estado.
A multinacional quer licenciar um parque eólico offshore (no mar) no Espírito Santo e outro no Norte do Rio de Janeiro. A empresa informou que já deu início ao processo de estudos de impacto ambiental. Os dados são necessários para determinar a viabilidade de desenvolvimento do empreendimento.
A informação - confirmada pelo diretor da Equinor Brasil, Rafael Tristão, na abertura do Oil & Gas Week 2020, promovido pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) - abre caminho para uma nova matriz energética.
Rafael Tristão
Diretor da Equinor Brasil
"Queremos participar do mercado de energia (renovável) no Brasil. Inclusive, recentemente começamos o estudo de impacto ambiental para avaliar o desenvolvimento de possível parque eólico offshore no Rio de Janeiro e no Espírito Santo"
Procurada pela reportagem para detalhar o empreendimento, a empresa informou que está no início da fase de avaliação dos projetos e ainda é cedo para fornecer detalhes sobre um potencial ativo eólico offshore e seu cronograma de desenvolvimento.
Equinor
Em nota
"No entanto, considerando a profundidade das águas tanto no Rio de Janeiro quanto no Espírito Santo, estamos prevendo turbinas fixas de fundo e precisamos de permissão para pesquisar a área para determinar como um projeto pode ser desenvolvido”, esclareceu a petroleira"
Em outros países, a empresa tem feito instalações de estruturas fixas, mas também flutuantes, que não precisam se conectar ao fundo do oceano para garantir a produção.
Na proposta em avaliação, cada parque eólico terá capacidade de 2 gigawatts (GW), totalizando 4 GW. Trata-se do maior projeto de energia eólica já apresentado a órgãos ambientais no país e também a primeira iniciativa dessa fonte energética da empresa no Brasil, sendo que, desde 2017, a norueguesa desenvolve operações similares na Europa.
Para se ter ideia do impacto do negócio, a energia gerada pelas turbinas (aerogeradores) nos dois empreendimentos seria suficiente para abastecer todos os lares do Espírito Santo e ainda deixaria algum excedente. Em 2019, a energia criada a partir de ventos teve cerca de 6 GW instalados no país. O Brasil, porém, ainda não tem projetos eólicos em alto-mar. Esse seria o primeiro.
E o negócio é vantajoso. Ao contrário de outras fontes de energia como o petróleo e até mesmo a água, o vento é simplesmente o ar em circulação e, por causa disso, não existem possibilidades de simplesmente acabar um dia, o que atrai investidores.
O projeto do complexo eólico offshore prevê 320 geradores a cerca de 20 quilômetros da costa, em águas entre 15 e 35 metros de profundidade, segundo a Equinor, que destacou ainda que os emprendimentos, batizados de Aracatu I e Aracatu II, vão utilizar geradores de 12 megawatts (MW).
Aracatu I está previsto para a costa do Rio, com a energia levada por cabos para uma subestação no município de Campos do Goytacazes, no norte fluminense, prevista para ser concluída em 2024. Já Aracatu II levará energia para Itapemirim, no Litoral Sul do Estado.
Os projetos estão entre as apostas da empresa para reduzir as emissões de carbono causadas pela operação com petróleo e gás. A ideia da atual gestão da Equinor é transformá-la em empresa ampla de energia, e não apenas de óleo, destinando globalmente entre 15% e 20% dos seus investimentos para projetos de energia renovável até 2030.
“No Brasil, nossos compromissos são de longo prazo e estamos começando a construir nosso portfólio de renováveis no país. Diante do potencial e criadas as condições de competitividade, as energias renováveis deverão ganhar cada vez mais espaço”, frisou a companhia, que disse priorizar áreas onde pode aplicar sua competência offshore para gerar valor para o negócio.
Também no Sul, uma empresa do Rio de Janeiro, estuda realizar um empreendimento eólico no mar. A proposta é da companhia Votu Winds, que tem como sócio um empresário belga, que mora no Brasil, Thierry Dor. O projeto pode ter como base o Porto Central, em Presidente Kennedy, conforme mostrou com exclusividade a colunista de Economia de A Gazeta, Beatriz Seixas.
“A nossa política é de primeiro ir aos órgãos oficiais, apresentar os documentos às instituições competentes, para só então divulgar à imprensa, torná-lo público. Não existe caminho definido. É muito difícil afirmar que a gente vai fazer porque depende da avaliação das agências. O que posso te dizer é que existe bastante estudo e estamos fazendo um trabalho para viabilizá-lo”, disse para A Gazeta.
Se tudo der certo, o parque eólico será feito em Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy para a instalação de equipamentos com 480 megawatts (MW), em três fases, totalizando 1.440 MW. Para isso, será necessário usar 48 turbinas (aerogeradores) de 10 MW de capacidade em cada cidade capixaba.
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