Uma conversa sobre o futuro da educação e das profissões em tempos de convivência com a Covid-19, a retomada das atividades presenciais e readequação ao novo modelo de ensino médio que passa a vigorar a partir do ano que vem. Esses são alguns temas que serão discutidos na edição deste ano do Arena Profissões, ainda em formato on-line por conta da pandemia. A live será transmitida em A Gazeta nesta quinta-feira (4), às 16h, com mediação do apresentador da TV Globo Serginho Groisman.
Pelo quarto ano consecutivo na condução do debate, Serginho destaca que a realidade está bem diferente do que era observado na primeira edição em que ele participou. O principal detalhe é o modelo de apresentação adotado por causa do coronavírus.
Serginho Groisman
Apresentador de TV e mediador do Arena Profissões
"É sempre uma conversa especial, diferente. O jovem e até mesmo o professor e o diretor, por exemplo, querem saber quais os caminhos são possíveis de a gente ter pela frente, já que muita coisa ruim aconteceu"
O Arena Profissões reúne especialistas, convidados e alunos para abordar diferentes aspectos da educação e é uma das principais fontes de pesquisa para os estudantes. Neste ano, participam das discussões:
- Andréa Salsa: professora da FGV e comentarista da Rádio CBN
- Pedro Guizardi: CEO na Dersalis
- Julina Binda: especialista em implantação no Findeslab
- Rosângela Vargas: gerente de ensino médio da Sedu
- Dr. Gustavo Peixoto: diretor de Mercado da Unimed Vitória
Em uma entrevista concedida na tarde de quarta-feira (3), o apresentador falou sobre a expectativa para o evento, comentou sobre o impacto da pandemia no processo de formação de crianças e adolescentes e discutiu as mazelas do desemprego.
Serginho, na sua opinião, o que é sucesso profissional?
Para mim, o sucesso profissional, primeiro, está relacionado a você ter prazer onde você trabalha, é você buscar um lugar onde possa ter liberdade, conforto, desenvolver suas ideias, colocar aquilo que é importante para você, para a construção do mundo. Claro que é bom que ele venha com uma receita que seja justa em relação ao seu trabalho. Para muita gente, o sucesso profissional é fama, por exemplo. Eu não acho que seja isso. De verdade, não acho. Eu acredito que o sucesso profissional é exatamente o que você deixa para o país, para o mundo, para sua família, o que é que você deixa como fruto do seu trabalho.
Você fez estágio em jornal, trabalhou em rádio, deu aula e é apresentador. Muita gente tem medo de trocar de emprego, porque pensa que isso imprime uma imagem de incerteza, insegurança profissional. Experimentar funções é importante?
Eu acho que a experimentação é exatamente o que a gente precisa procurar a vida inteira. Não só porque vai nos dar um tipo de conceito maior a respeito daquilo que a gente conhece, amplia nosso conhecimento, mas também porque fortalece o que estamos fazendo. Experimentar, muito longe de ser sinal de fraqueza, é acúmulo de conhecimento.
Como você acredita que é possível entender ou descobrir a nossa vocação?
Eu acho que a vocação tem a ver com o que a gente acabou de falar, do experimento. Fico lembrando que, quando eu era criança, falava: qual esporte que eu vou praticar? Claro que eu amava futebol, mas eu tinha que experimentar outros esportes. A conclusão é que eu não tinha vocação para nenhum dos esportes. Na verdade, eu joguei bola, fui um razoável meio de campo. Na vocação profissional, eu, por exemplo, fiz um ano de faculdade de Direito e larguei. Fiz um ano e meio de História, na USP, larguei. E terminei no Jornalismo. Eu experimentei, não tive medo, não tive pressão de família, nem de amigos. Acho que isso é muito importante. É você olhar para a frente e ver que pode optar por caminhos diferentes para ver até onde vai se enquadrar. Claro que logo você começa a saber, você vai excluindo algumas áreas. O que não pode, no meu ponto de vista, é você determinar desde o começo da sua vida o que é que vai ser. Isso é muito perigoso, porque você pode se frustrar naquilo que achava que podia se dar bem, quando existe um mundo de coisas novas às quais pode se adaptar. Você pode ter uma profissão e pode, paralelamente, ter outras atividades que deem prazer também.
De acordo com o IBGE, no trimestre terminado em agosto, 13,7 milhões brasileiros estavam desempregados. Neste cenário de pandemia, o que é preciso observar para continuar antenado e preparado para as oportunidades de trabalho?
Acredito que a gente tem um alto grau de desemprego hoje em dia muito pela pandemia, muito por um equívoco de leitura do que é nossa economia, mas existem questões que estão se modificando, existem novas profissões aparecendo e adequações a este momento. O home office, que nasceu basicamente em função da pandemia, acredito que ele vai continuar, mesmo com a retomada. Isso foi muito bom para empresa e bom para o empregado em vários sentidos, mas existe uma necessidade de adequação técnica e tecnológica. Nem todo mundo pode ter isso no Brasil, aliás, a maioria do povo brasileiro não tem acesso a uma tecnologia mais sofisticada. A gente tem que esperar a economia se recuperar para ver qual o grau de recuperação desses empregos também, mas é importante estar atento às novas técnicas e tecnologias, porque isso veio para ficar. Acho importante todo mundo ficar atento às profissões e à vocação. E batalhar muito, que é uma coisa importante. O estágio é importante quando você consegue. Para mim, uma coisa importante é a seguinte: se você tiver certeza da sua vocação, vai ter que ter paciência. Às vezes, não acontece rapidamente. Se você insistir, e for bom, uma hora vai acontecer.
Um estudo publicado pela Unicef, em abril deste ano, apontou que em novembro de 2020 quase 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam a escola (remota ou presencialmente). A eles, somam-se outros 3,7 milhões que estavam matriculados, mas não tiveram acesso a atividades escolares e não conseguiram se manter aprendendo em casa. Qual o impacto disso no processo de formação desses estudantes?
A pandemia, com o fechamento das escolas, veio acirrar mais a desigualdade. A desigualdade econômica, a desigualdade racial... enfim, veio acentuar a desigualdade. Em primeiro lugar, por causa do ensino remoto, infelizmente. As escolas batalharam, mas mostrou um desequilíbrio dentro da sociedade. Nem todo mundo tem um celular ou tablet, nem todo mundo tem acesso à internet, nem todo mundo pode ter em casa a mesma concentração que tem em sala de aula, nem todo mundo pode ter acesso às refeições que as escolas dão. Em segundo lugar, muitas famílias, por medo do vírus, optaram em não deixar os filhos frequentarem as escolas. A gente vive um processo ainda, muito menos grave, mas sempre atento. Com o tempo, vemos o desequilíbrio causado por esse período, com uma evasão escolar muito grande. Mas tenho otimismo de que essas pessoas que ficaram para trás terão capacidade de recuperação. A realidade, por enquanto, é perversa, mostra uma desigualdade muito grande.
Este será o quarto ano consecutivo em que você participa do Arena Profissões. O que mudou e o que continua igual no mercado das profissões neste intervalo de tempo?
Como todos os anos, eu vejo pela Rede Gazeta uma preocupação muito grande pelo adolescente e a busca pelo conhecimento das profissões. Eu acho que, da primeira vez que eu fui, muita coisa mudou no âmbito das profissões. Mudou a escola, com essa renovação do ensino médio, criaram-se novas profissões... isso é uma coisa que a gente vai conversar, mas existe uma coisa que, quando falamos em 'novas profissões', faz parecer que as outras são velhas. E não é nada disso. O que existe é que em cada uma das profissões mais antigas existe hoje a necessidade de um olhar técnico e tecnológico muito grande. Ninguém que se formou há 10 anos pode achar que pode exercer essas profissões sem estar ciente que existem novas tecnologias. Todas as profissões precisam da tecnologia.
O que pretende discutir neste ano no Arena Profissões?
Primeiro, queria convidar todo mundo para participar comigo de uma conversa sobre o futuro da educação e as profissões que a gente tem. É sempre uma conversa especial, diferente. O jovem e até mesmo o professor, o diretor da escola, estão querendo muito saber quais são os caminhos que são possíveis de a gente ter pela frente, já que muita coisa ruim aconteceu. Como vai ser a retomada, a adequação do ensino médio. Vou conversar com várias pessoas que exercem profissões diferentes para que a gente veja que todas as profissões merecem respeito e que em todas as profissões, o talento, quando é desenvolvido, é bem recompensado.
Haverá interação com o público, mesmo de modo virtual?
Vamos conversar com profissionais diferentes e o público vai poder fazer perguntas, que vão ser encaminhadas para mim e para os convidados. Acredito que o ano que vem, mesmo eu estando aí presencialmente, a gente vai continuar com as telas, virtualmente, de outros Estados, outros países. A gente tem agora essa possibilidade de conversar com o mundo e interagir.
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