Foi-se o tempo em que produzir café conilon era como pouco rentável ou tinha menor reconhecimento por não gerar uma "bebida fina". Na verdade, quando a pauta é qualidade na variedade, o Espírito Santo é referência, afinal, o Estado é responsável por aproximadamente 70% da produção nacional e cerca de 20% da mundial.
A vocação para o cultivo atrelado à melhora na produção fez com que, desde 2021 e de forma inédita, o ES detenha o selo de Indicação Geográfica (IG) de Indicação de Procedência (IP) para o conilon, reconhecido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Os dados são do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), que também mostra a variedade como a principal fonte de renda em cerca de 80% das propriedades rurais capixabas que, com o selo, conseguem maior reconhecimento na cultura, aumento na renda, possibilidade de geração de empregos, além do acesso ao conhecimento e tecnologia, cruciais para manter a produção de qualidade e os ganhos.
Para que a certificação de qualidade fosse alcançada, em 2019 a Federação dos Cafés do Estado do Espírito Santo (Fecafés) foi formada, unindo cooperativas, sendo elas a Nater Coop (antiga Coopeavi), de Santa Maria de Jetibá; a Cooabriel, em São Gabriel da Palha; a Cafesul, em Muqui; e a Coopbac, em São Mateus. Além das parcerias com o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Espírito Santo OCB/ES e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/ES), que atuam como apoiadores.
O selo foi uma conquista de muitas mãos, conforme frisa a gerente da regional Central do Sebrae/ES, Carla Bortolozzo. E o status é inédito, já que é a primeira Indicação Geográfica do Brasil a abranger a produção de conilon em um Estado inteiro.
O café qualificado para receber o selo da IG deve também ter, no mínimo, 80 pontos do máximo de 100, nas 10 categorias que definem um café especial. O presidente da Fecafés, e também da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello, explica que, no início do trabalho, em 2019, chegaram a considerar cafés com 78 pontos, mas perceberam que, tamanha a qualidade da produção, era possível que essa média crescesse. Quando conseguiu a IG, o Espírito Santo teve pontuação 90 em um café conilon especial.
“Entendíamos que tinham poucos cafés (conilon de qualidade), que precisávamos garimpar, mas hoje isso mudou. Cada cooperativa tem profissionais que analisam as produções e assinam os laudos de qualificação para que a gente possa emitir os selos. Hoje nós podemos dizer que temos conilon de qualidade comprovada e o que buscamos é fazer ele ser conhecido mundialmente”, diz.
O extensionista e coordenador do Centro Regional de Desenvolvimento Rural (CRDR) Noroeste do Incaper, Welingon Braida Marré, falou sobre a visão do instituto sobre a Indicação Geográfica de Indicação de Procedência. Para ele, é o reconhecimento de todo o trabalho dos produtores, muitas vezes com agricultura familiar, além da comprovação da melhoria na produção desde que adotado o plantio da variedade e a importância de conservar os padrões para que o selo tenha cada vez mais peso.
“Para manter o reconhecimento é necessário manter qualidade, produtividade, seguir os critérios de sustentabilidade e levar em consideração fatores social e ambiental, e nisso o Incaper também ajuda. Na verdade, Incaper e Seag têm programas de desenvolvimento sustentável além de apoio técnico aos produtores. Hoje, somos concorrentes diretos do Vietnã, que produz 30 milhões de sacas por ano. Se fossemos um país, seríamos o segundo maior produtor do mundo. O conilon é uma commodity, se fala que é mais para a produção de café solúvel e, por isso, não requer muita atenção de qualidade, mas essa visão tem mudado”, explica Marré.
O conilon não era a variedade de café favorita para a bebida e produção aqui no Estado, mas novas práticas de cultivo e preparação viraram esse jogo. A espécie é produzida no ES desde 1912, mas foi a partir dos anos 60 que isso mudou.
Uma crise cafeeira afetou a produção da variedade então plantada, fazendo com o que o conilon, que tem maior facilidade de cultivo e boa adaptação em território capixaba, chamasse a atenção dos produtores. Atualmente, segundo dados da Secretaria de Agricultura do Espírito Santo (Seag), o Estado é referência nacional e mundial na produção de café, sendo responsável por três a cada quatro sacas de conilon produzidas no Brasil.
Para se ter noção da grandiosidade da produção da variedade no ES, conforme informações da Seag, a área do conilon em 2022 foi de 259.174 hectares e a produção chegou a 12,4 milhões de sacas.
Para este ano, a previsão é que o alcance do conilon aumente em 1,1%, chegando a 261.921 hectares, mas com produção de 10,5 milhões de sacas, o que pode ser uma redução de 14,43%, segundo dados levantados pela Gerência de Dados e Análises da Seag. Apesar das variações para baixo, o Espírito Santo se mantém como maior produtor nacional, com larga vantagem do segundo colocado.
O selo de Indicação Geográfica tem rendido bons frutos desde que o reconhecimento foi concedido ao Espírito Santo, em 2021. O café “conilon do Espírito Santo” teve a primeira exportação do grão em junho de 2022. De acordo com dados do Sebrae/ES, o embarque do primeiro contêiner com 19,2 toneladas do café com 80 pontos (pontuação necessária para ser considerado um café especial) teve a Itália como destino. A operação de estreia trouxe orgulho do trabalho feito com a Federação dos Cafés do Estado do Espírito Santo (Fecafés).
“Entregamos um trabalho de estruturação, fazendo acompanhamento preparatório e executando ações em conjunto. É um sistema integrado onde a Fecafés tem contato com as cooperativas, que têm contato com os produtores com preparação técnica, assessoria, gestão da propriedade, certificação orgânica, tudo em prol de elevar os produtos. Assim é que podemos mostrar para o mundo os cafés especiais do Espírito Santo”, afirma a gerente da regional Central do Sebrae/ES, Carla Bortolozzo.
O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, enfatiza o diferencial do conilon capixaba. Segundo ele, o café tem uma qualidade única e específica que se torna referência para o Brasil e para o mundo. A marca territorial é o reconhecimento de um produto de qualidade única e específica, mas é um projeto que continua caminhando. Bergoli explica que é preciso colocar mais energia no processo, mas que isso já está em curso.
“Esse conilon é uma coisa muito nossa, muito capixaba. Ele está no Estado na totalidade, esse é um diferencial importante. Essa indicação geográfica é um reconhecimento como origem de um produto com uma qualidade única e específica. Ainda não há uma consolidação forte dessa marca. Já temos a indicação, agora, é cada vez mais ampliar o volume destes cafés, melhorar os aspectos de divulgação, para conquistarmos maiores fatias de mercado”, projeta.
O presidente da Fecafés, Luiz Carlos Bastianello, aponta que apenas mais um envio foi feito com IG para o exterior. O processo foi pausado para que ajustes sejam feitos no sistema de rastreabilidade e também no selo de garantia da qualidade que identifica o café.
A expectativa é que, depois de concluído este trabalho, muita energia seja colocada na divulgação do café conilon do ES para o mundo.
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