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Nelson é advogado, com pós-doutorado em Direito pela Universidad de Sevilla. Pós-doutorado em Direito pela Unisinos-RS. Líder do Grupo de Pesquisa CNPq-FDV Teoria Crítica do Constitucionalismo. Professor do Doutorado e Mestrado da FDV. Ronaldo é professor na FAACZ-ES. Doutorando em Direitos e Garantias Fundamentais pela FDV-ES. Membro do Grupo de Pesquisa CNPq-FDV Teoria Crítica do Constitucionalismo

A democracia e o longotermismo de Elon Musk

Dado o alcance global das big techs, os governos democráticos podem (ou devem) trabalhar em conjunto em acordos internacionais para regulamentar suas atividades, garantindo uma abordagem consistente em todo o mundo

  • Nelson Camatta Moreira e Ronaldo Félix Moreira Júnior Nelson é advogado, com pós-doutorado em Direito pela Universidad de Sevilla. Pós-doutorado em Direito pela Unisinos-RS. Líder do Grupo de Pesquisa CNPq-FDV Teoria Crítica do Constitucionalismo. Professor do Doutorado e Mestrado da FDV. Ronaldo é professor na FAACZ-ES. Doutorando em Direitos e Garantias Fundamentais pela FDV-ES. Membro do Grupo de Pesquisa CNPq-FDV Teoria Crítica do Constitucionalismo
Publicado em 15/05/2024 às 15h42

As novas tecnologias digitais vêm proporcionando grandes impactos nos projetos de implementação de um Estado Democrático de Direito, no Brasil, com aspectos positivos e negativos. Por um lado, a internet e as mídias sociais democratizaram o acesso à informação, promovendo a participação cívica e a liberdade de expressão. No entanto, essas mesmas tecnologias também têm sido usadas para propagar desinformação e propagandas que alimentam populismos e polarizações.

Conforme temos acompanhado pela imprensa, parece que big techs têm mostrado relutância em relação às regulamentações estatais. Com os recentes acontecimentos envolvendo a rede “X”, talvez seja necessário dizer que não há apenas uma relutância, mas um verdadeiro embate entre grandes corporações privadas e Estados nacionais.

Ao acusar o Supremo Tribunal Federal de violar o direito à liberdade de expressão, Elon Musk não apenas mostra seu desconhecimento em relação à legislação e à Constituição brasileiras, mas também seu receio em relação ao avanço no Brasil na elaboração de normas que possam responsabilizar e onerar sua plataforma.

É difícil acreditar que os responsáveis por tais plataformas estejam realmente preocupados com os direitos fundamentais dos países do sul global. Musk, por exemplo, é defensor do criticável longotermismo e mais de uma vez se mostrou despreocupado com a democracia e a efetivação de direitos fundamentais de países periféricos.

O longotermismo/longoprazismo, derivado do pensamento filantrópico do altruísmo eficaz, é um movimento que enfatiza a tomada de decisões e a formulação de políticas com base em considerações de longo prazo, em vez de apenas focar nos resultados imediatos.

Cumpre salientar que esse “movimento” sofre inúmeras críticas, por ser considerado enganoso e até perigoso, tendo em vista que ao buscar beneficiar as futuras gerações, prega que é aceitável sacrificar o bem-estar das pessoas presentes (bem como negligenciar problemas urgentes como pobreza extrema, forme e acesso à saúde), especialmente as mais vulneráveis, em nome de um futuro hipotético.

Essa situação enfraquece elementos essenciais da democracia atual, como a separação de poderes e a liberdade de imprensa, uma vez que grandes corporações detêm grande poder sobre a informação disseminada. É necessário que tanto cidadãos quanto representantes do Estado estejam preparados para lidar com esses desafios, exigindo também a criação de marcos legais adequados, que deverão ser constantemente atualizados, bem como a promoção da responsabilidade e prestação de contas.

Elon Musk, proprietário da rede social X
Elon Musk, proprietário da rede social X. Crédito: Reprodução

As novas tecnologias de comunicação e informação requerem uma implementação cuidadosa por parte das empresas e governos, assim como uma adaptação consciente por parte dos indivíduos. O direcionamento preciso da publicidade online com base em perfis detalhados dos usuários levanta sérias questões sobre privacidade e manipulação de opinião pública, afetando a integridade do processo democrático.

Diante desses desafios, é crucial abordar as lacunas regulatórias que surgem com a evolução rápida das tecnologias digitais. Estabelecer marcos legais apropriados e fortalecer a responsabilidade e prestação de contas são passos essenciais para garantir a proteção dos direitos fundamentais no ambiente digital em constante mudança, preservando assim os princípios do Estado Democrático de Direito.

Não obstante, dado o alcance global das big techs, os governos democráticos podem (ou devem) trabalhar em conjunto em acordos internacionais para regulamentar suas atividades. Isso poderia ajudar a evitar a evasão regulatória e garantir uma abordagem consistente em todo o mundo. Mas este é um desdobramento para as próximas abordagens.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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