A pandemia de Covid-19, infelizmente, ainda não acabou e seus desdobramentos continuam dividindo opiniões país afora. Com o avanço da vacinação (apesar do negacionismo) e a queda dos números de óbitos e infectados pelo novo coronavírus, a grande polêmica da vez é a realização, ou não, dos festejos carnavalescos no próximo ano.
Conforme é do conhecimento de todos, de maneira geral, os setores mais conservadores de nossa sociedade (entre eles, empresários, fiéis de igrejas neopentecostais e militantes anticiência) se posicionaram de forma contrária (e, em certos casos, boicotaram) as medidas de distanciamento social adotadas para conter o espalhamento do novo coronavírus entre a população.
Não raro, a despeito das recomendações propostas por autoridades sanitárias, esses indivíduos promoveram e/ou frequentaram aglomerações, mesmo no auge da pandemia, o que contribuiu consideravelmente para que o Brasil atingisse o triste posto de segundo país com mais óbitos por Covid-19 (atrás apenas dos EUA).
Não obstante, mesmos nos piores meses das contaminações pelo novo coronavírus, estes setores também promoveram massivas campanhas pela total reabertura da economia, pelo retorno das aulas presenciais e pela realização de cultos com a capacidade máxima dos templos religiosos. Para corroborarem seus argumentos, alegavam que prefeituras e governos estaduais estariam aumentando os números de casos de mortes por Covid-19 para, assim, continuarem com a adoção de mediadas de distanciamento social.
No entanto, por um desses paradoxos que só o pensamento conservador é capaz de produzir, as mesmas pessoas que antes criticavam qualquer tipo de proibição a aglomerações, agora se mostram decisivamente contrárias à realização do carnaval 2022. Segundo essa linha de raciocínio, se antes os números relacionados à Covid-19 eram inflacionados para justificar o distanciamento social, nas últimas semanas, estes mesmos percentuais passaram a ser minimizados, para que sejam realizadas comemorações como o carnaval.
Acredito que o ponto central sobre essa polêmica não é, necessariamente, a realização do carnaval 2022, embora tudo indique que o mais prudente seja, realmente, o cancelamento da festa. O que está por trás da atual campanha anticarnaval promovida pelos setores conservadores não é uma possível preocupação com a saúde coletiva (se assim o fosse, o mesmo valeria para outros tipos de aglomerações que, diga-se de passagem, foram até incentivadas e bem-vistas).
Movimentos pelo fim dos festejos carnavalescos já existiam muito antes da pandemia de Covid-19, a partir dos mais variados pretextos. Nesse sentido, não deixa de ser irônico constatar que os mesmos indivíduos que sugerem ser o cancelamento do carnaval uma oportunidade para o poder público direcionar mais verbas para saúde e educação também defenderem o chamado “Estado mínimo”, que, entre outras medidas, é caracterizado, justamente, por menos investimentos em serviços públicos.
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Portanto, a atual campanha anticarnaval não tem nada de altruísta ou se trata de uma mobilização baseada em argumentos científicos. É apenas uma nova roupagem para antigos preconceitos. O ódio conservador ao carnaval é, acima de tudo, ódio a toda manifestação de caráter popular e a qualquer tipo de exaltação à vida.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
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