O que é a beleza? O conceito do que é belo é estritamente cultural ou está de alguma forma associado à biologia? O que o homem tem feito ao longo de milênios em busca de melhorar a sua aparência, de tatuagens a piercings?
Em busca de respostas, a psicóloga e pesquisadora norte-americana Nancy Etcoff, PhD em Psicologia Clínica pela Universidade de Boston e professora de Harvard, escreveu um interessante livro, intitulado “A Lei do Mais Belo”, lançado no Brasil pela editora Objetiva.
A obra, como a própria autora define, é uma investigação sobre o que consideramos belo, argumentando que a busca apaixonada pela beleza reflete a ação de um instinto básico de sobrevivência e de evolução da espécie, não somente entre os homens. A cauda do pavão talvez seja o exemplo mais famoso e ilustrativo do mundo animal.
Uma busca no dicionário Houaiss indica que o belo é o que tem a aparência agradável, perfeita ou harmoniosa, despertando sentimentos de admiração e prazer. A beleza certamente está associada ao prazer.
A cultura exerce, sem dúvida, influência sobre nosso comportamento e percepção, mas a autora argumenta que a cultura não é absolutamente desincorporada ou infundada, ela é “gerada de maneira intrincada por mecanismos localizados na mente humana, que processam as informações”. Esses mecanismos, por sua vez, estão ligados ao processo evolucionário.
Pesquisas com crianças de 3 a 6 meses indicam que os olhares delas se detêm por mais tempo em rostos atraentes. A pesquisa começou com adultos, que avaliaram centenas de slides e indicaram os de maior atratividade – os bebês também encararam por tempo mais longo os rostos que os adultos acharam atraentes.
“Os bebês parecem vir ao mundo equipados com a capacidade de discriminar e preferir o belo”, diz a autora. Essa pesquisa realizada pela psicóloga Judith Langlois, da Universidade do Texas, mostrou que as crianças preferem padrões simétricos a assimétricos; superfícies macias, em vez de ásperas, e música harmoniosa à dissonante.
Culturas ocidentais costumam ser criticadas por valorizar excessivamente a beleza física. Outro estudo citado pela psicóloga norte-americana, contudo, pesquisou 10 mil pessoas de 37 culturas sobre preferências de parceiros sexuais, da Austrália à Zâmbia. No mundo todo, a gentileza foi muito valorizada, mas a atratividade física e a boa aparência ocuparam o topo da lista das 10 qualidades mais importantes.
“Culturas com a maior predominância de doenças parasitárias são ainda mais propensas a dar um alto valor à beleza física, pois uma bela cabeleira, pele lisa e corpo musculoso e magro são atestados visuais de boa saúde”, diz a autora.
A busca por melhorar a aparência parece tão antiga quanto a própria humanidade. Arqueólogos descobriram no sul da África varetas de ocre vermelho de aproximadamente 40 mil anos atrás, provavelmente para pintar o rosto e o corpo, já que eles não encontraram nenhuma arte do mesmo período na região.
No Egito Antigo, a maquiagem já era bem desenvolvida: quando arqueólogos abriram o túmulo do Rei Tutancâmon, encontraram um pote de hidratante de três mil anos, feito de gordura animal e resina perfumada.
A indústria da beleza não para: estima-se que o setor deve movimentar mais de 570 bilhões de dólares neste ano no mundo, e o Brasil é um dos maiores mercados do planeta.
Como dentista, o que observo na profissão é uma crescente busca por um sorriso mais bonito, para melhorar a autoestima, a segurança pessoal e até profissional. Todo especialista que lida com público sabe a importância de um belo sorriso natural e espontâneo.
O livro não pretende ser conclusivo, como sugere a própria autora ao apresentá-lo como uma investigação a respeito do assunto. Mas é uma leitura interessante sobre a busca incessante pela beleza, que parece acompanhar o homem desde sempre.
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