Tenho chamado a atenção, nos artigos que venho publicando, para o incrível crescimento da direita nas eleições de 2022 no Brasil, ampliando o crescimento que já houve em 2018. Foi uma verdadeira febre, inclusive em nosso estado. Sob esse manto ideológico se abriga uma coalizão de interesses bem extensos. Podemos dizer sem medo de errar que a direita não é um bloco, mas que todo o crescimento foi possibilitado pela liderança do ex-presidente Bolsonaro.
Existem seguramente nesse leque político uma enorme variação de interesses. Podemos citar como exemplos, entre outros, os evangélicos e sua defesa da família na concepção mais tradicional – as pessoas de bem, como se autodefinem - os liberais muito preocupados com a redução do tamanho do estado na economia – os representantes do chamado mercado - e, tristemente, um conjunto de pessoas autoritárias que não aceita o resultado das urnas, e se que alimenta de uma incrível fábrica de mentiras que se instalou, impunimente, em nosso país. Sobretudo os mais velhos, os de cabeça branca analógicos, vivem em realidade paralela que o mundo das redes sociais, em especial do WhatsApp, criou. São os patriotas.
Os patriotas, de fato uma fração radical da direita, elegeu como seu mito e não apenas seu líder político o ex-presidente Bolsonaro, e insiste em articular um movimento para anular os resultados das eleições e trazer de volta o presidente derrotado. Querem uma intervenção militar, o retorno de uma ditadura e o fechamento das instituições democráticas. Mas devemos lembrar que essa fração não expressa o conjunto daquilo que chamamos de direita, segundo os conceitos estabelecidos.
Essa franja mais exaltada e de corte claramente autoritário tem asfixiado em termos de imagem outras tendências, igualmente importantes nesse conjunto eclético de valores. Esse subconjunto resolveu passar do seu universo paralelo a uma ação golpista no último domingo (8). Protagonizou cenas inacreditáveis em Brasília. Algo da ordem do impensável. Resultado manchou todo o conjunto, e pode comprometer o seu futuro.
A centro-direita que se apoia no liberalismo econômico e mesmo nas bases de cristianismo conservador precisa se diferenciar desse golpismo. Toda democracia moderna nasce do embate e dos conflitos das ideias de esquerda e também de direita. O Brasil que tem um governo de centro-esquerda também precisa do debate liberal das ideias, afinal a tensão é o motor a política. Não precisamos de um teatro carnavalizado. Precisamos de seriedade e compromisso com a realidade.
Agora é hora de livrar-se a direita desse culto bolsonarista atrasado, e cultivar outro campo dos conceitos, como se faz modernamente nos países europeus, por exemplo. Avançar na batalha das ideias e esquecer o culto à porta dos quarteis. Outras lideranças e narrativas se impõem. A nova direita brasileira está diante de seu labirinto. É preciso encontrar uma saída.
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