“Este ano não vai ser igual aquele que passou...”. Devido aos protocolos preventivos ao novo coronavírus, com a proibição de aglomerações — e o carnaval é na sua essência aglomeração —, todos os eventos comandados por Momo estão cancelados e proibidos. Desde os bloquinhos dos bairros, das praias até, principalmente, os desfiles das escolas de samba, em sambódromos espalhados país afora.
Não foi uma decisão simples. Uma grande indústria geradora de emprego, renda e inclusão social está totalmente paralisada, gerando um enorme prejuízo econômico e cultural. Não se discute, apesar da delicadeza do tema, que a vida da população está em primeiro lugar, sempre. Ainda mais diante das grandes dificuldades que o país está enfrentando para a vacinação em massa da nossa população, devido ao grande imbróglio político em que se transformaram os programas vacinais de combate à Covid 19, que já ceifou mais de 235 mil vidas de brasileiros e brasileiras. Uma verdadeira catástrofe.
Temos registros na história de tentativas oficiais, sem sucesso, de adiar a festa do carnaval. Uma aconteceu por motivos sanitários, em 1892, com o grande surto de febre-amarela. Outra aconteceu em 1912, com a morte do então ministro do Exterior, e reconhecido como herói nacional, o Barão do Rio Branco.
Tivemos ainda, no fim do século 19, a transferência, por decreto, dos festejos carnavalescos para o último final de semana junho, devido ao terrível calor do verão em fevereiro daquele ano. Pouco adiantou: chegou o dia do carnaval, e todos tomaram as ruas, principalmente na capital federal Rio de Janeiro, e, apesar da repressão policial, os bailes aconteceram.
Nem as duas grandes guerras mundiais impediram a realização do carnaval no Brasil. O carnaval de 1919 é tido até hoje como o maior de todos os tempos. A gripe espanhola que veio com o fim da Primeira Grande Guerra matou milhares de brasileiros e foi embora em novembro de 1918. Isso fez com que o carnaval do ano seguinte, segundo os historiadores, tenha sido o mais louco de todos os tempos, o mais irreverente de que se tem notícia. Marca do jeito brasileiro de ser.
“Foi bom te ver outra vez, tá fazendo um ano, foi no carnaval que passou”, diz a letra do grande clássico “Máscara Negra”, em ritmo de marcha-rancho, de Zé Keti e Pereira Passos, escrita para o carnaval de 1967, sucesso até hoje. Desde o início das festas carnavalescas, que, segundo historiadores, começaram a acontecer com a chegada dos portugueses, no século XVI, nunca o brasileiro deixou de celebrar a data mais alegre e colorida do calendário nacional, que sempre acontece logo antes da Quaresma, em fevereiro ou março. Este ano marca em vermelho na “folhinha”: dia 16 de fevereiro é o carnaval, e 17 de fevereiro é a Quarta-feira de Cinzas, apesar de muitos Estados e municípios não terem mantido a tradição, decretando dia normal de trabalho.
O Brasil é reconhecido mundialmente como o país do futebol e do carnaval. Nossos títulos mundiais no futebol e os recordes de público no carnaval, tendo o Galo da Madrugada, em Recife, reconhecido pelo Guinness Book como o maior bloco carnavalesco do planeta, que também reconhece a folia em Salvador, Bahia, como o maior carnaval de rua do mundo. Os festejos de carnaval no Brasil estão intimamente ligados à construção da nossa história, e a primeira vez sem carnaval não vamos esquecer.
O autor é escritor e subsecretário Municipal de Cultura de Vila Velha
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