A educação superior é um componente fundamental no processo de desenvolvimento. De um lado, a formação do capital humano é condição necessária para aumentos de produtividade na economia porque a reestruturação produtiva exige novas habilidades e competências, novos conteúdos e a permanente capacidade de aprender a aprender. De outro, as descobertas do conhecimento, a partir da graduação, representam mais capacidade de reflexão, de pesquisa, de processamento de informações, de debates e de formulações no plano de organização da sociedade.
Embora 17% da população brasileira, mais de 35 milhões de pessoas, não tenham acesso à internet em banda larga, 3G ou 4G em domicílio, o número de estudantes de graduação e pós-graduação sem acesso não chegava a 200 mil alunos em 2018, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Esse dado vai ao encontro de duas fortes tendências que antecedem à crise: i) o crescimento da educação à distância no Ensino Superior e ii) a universalização dos serviços de telecomunicações no Brasil.
Deixemos a segunda tendência com o Programa WI-FI Brasil que está levando conectividade de alta velocidade a todo país. A primeira tendência, o crescimento da educação remota entrou num processo de aceleração. A crise tem sido um catalizador de mudanças, pois a trajetória da educação já incorporava essa tendência.
O isolamento social acelerou essa expansão com muitos cursos de graduação tornando-se híbridos e outros totalmente não presenciais. No mesmo momento, foram desenvolvidas novas estratégias para incorporar melhores práticas pedagógicas e a melhora de desempenho e qualidade é função do tempo.
Dados do Censo da Educação Superior indicam que o número de vagas na graduação em cursos na modalidade à distância (EAD) cresceu 45% entre 2018 e 2019, passando de 7,1 milhões para 10,4 milhões de vagas. Enquanto isso, no mesmo período, a graduação presencial encolheu o número de vagas em 5,2%, passando a ofertar menos 328.832 oportunidades para quem pretendia fazer um curso superior. No setor privado, que captura bem os sinais de mercado, em 2019 de cada 3 vagas abertas, duas eram EAD. E mais: 99% das vagas de ensino remoto foram oferecidas por instituições privadas.
Em 2018, inclusive, tivemos um marco histórico: foi a primeira vez que tivemos mais vagas ofertadas na modalidade à distância do que presencial. A crise na saúde acelerou o processo, mas outros fatores como a crescente dificuldade na mobilidade e a violência urbana reforçam essa tendência.
Questões relativas à flexibilidade de horários e compatibilidade com a nova dinâmica do mercado de trabalho também cooperam com a maior aceitação do ensino remoto. Os custos operacionais, com as possibilidades de escala, completam as variáveis que potencializam as vantagens competitivas do ensino remoto.
Portanto, quando vejo essas tendências educacionais e tecnológicas, proponho ao Ministério da Educação e à Presidência da República a criação de uma Universidade Federal Digital do Brasil. Ainda que as atuais instituições públicas possam se organizar em sistemas e redes, a Universidade Aberta do Brasil é vocacionada para qualificar professores da rede pública.
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Precisamos de uma nova organização que já nasça dentro do paradigma de ensino remoto. Ao invés de buscar adaptação, que os dados têm mostrado timidez, vamos criar um novo modelo organizacional. Teremos mais êxito criando uma nova estrutura para ampliar o acesso ao ensino superior. O ensino remoto como “novo normal” é um fenômeno distinto, de descontinuidade, de ruptura com o padrão anterior para padrões de qualidade também superiores.
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