O debate sobre a decadência econômica do Centro de Vitória (ES) é longo e tem mobilizado diversos atores sociais e políticos. Medidas políticas, econômicas e administrativas são tomadas, mas não são capazes de modificar as representações sociais em torno do Centro de Vitória e atrair novos investimentos econômicos e imobiliários, como sonhados por seus proponentes. O próprio deslocamento do poder administrativo, nas diversas instâncias de poder, somado aos interesses especulativos imobiliários e patrimoniais locais, impulsiona o esvaziamento econômico dessa região da cidade de Vitória.
Então, qual a solução para a reanimação econômica do Centro de Vitória? Dado o processo de crescimento de outros centros comerciais e populacionais no contexto da Região Metropolitana de Vitória e o desencontro com os interesses especulativos do capital imobiliário, resta ao Centro de Vitória uma ação intercalada entre comunidade local e poder público na configuração de novos usos e apropriação da localidade histórica. Apenas uma política de intervenção urbana e social, inscrita numa estratégia de requalificação socioeconômica, pode tornar o Centro Histórico da capital capixaba num local atrativo para outras populações.
Não discutiremos aqui as bases orçamentárias para tais propostas, mas apontaremos possibilidades para abrir novos caminhos de circulação e uso do Centro de Vitória. A criação de repúblicas estudantis, por exemplo, destinadas a estudantes universitários que chegaram às diversas instituições de ensino superior da Região Metropolitana de Vitória. As medidas políticas implicam a construção de uma grande engenharia social, haja vista os diversos interesses econômicos e financeiros que envolvem os patrimônios imobiliários mantidos vazios no Centro de Vitória.
O autor é professor de História formado pela Ufes e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Outra proposta seria transformar o Centro de Vitória num grande laboratório de ensino, especialmente para as crianças e adolescentes da educação básica. A ideia reside em construir percursos e intervenções urbanas nas quais as crianças e adolescentes possam interagir e conhecer a localidade através de sua história, reconhecendo sua importância na estrutura da Região Metropolitana de Vitória. Além disso, aos finais de semanas, para atrair visitantes e turistas, as ruas do centro da capital poderiam ser preenchidas com intervenções artísticas, jogos e shows, consolidando o Centro como espaço de cultura e de aprendizagem.
Por fim, a proposta mais onerosa e estratégica, que exigiria uma intensa mobilização social de ativos e atores políticos, seria a criação de um corredor de festas e bares, ou seja, a transformação do centro antigo de Vitória numa área permanente de diversão e lazer, especializada em algum tipo de nicho comercial e/ou artístico.
De início, essas propostas podem parecer sem sentido e inviáveis; entretanto, diante de um Centro de Vitória de portas fechadas, é preciso pensar em alternativas econômicas, pois essa é a grande crise vivida pelo Centro de Vitória diante do intenso deslocamento do poder público para as fronteiras de valorização imobiliária da cidade. Ou seja, a mudança geográfica contínua do poder social, político e econômico para a Zona Norte da Ilha do Mel, onde a cidade, enquanto máquina de acumulação e especulação, se territorializa com toda força e vigor.
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