Autor(a) Convidado(a)
É especialista em sustentabilidade e diretora presidente do Instituto Ideias

Água, da abundância à escassez

Um quarto da população do mundo enfrenta estresse hídrico “extremamente alto”. Prevê-se que a demanda por água aumente em até 30% até 2050

  • Tereza Romero É especialista em sustentabilidade e diretora presidente do Instituto Ideias
Publicado em 22/03/2023 às 11h31

Precisamos pensar nesse bem tão precioso e ao mesmo tempo tão fugaz! Água, fundamental para a manutenção da vida, é o recurso mais abundante do planeta, mas é preciso entender que somente uma pequena porção desse vasto universo é própria para consumo humano.

Segundo dados divulgados pela WWF-Brasil, mais de 70% da superfície da Terra é coberta por água, entretanto, menos de 1% é própria para consumo. Do total de água disponível no planeta, 97% estão nos mares e oceanos (água salgada) e apenas 3% são água doce. Dessa pequena porcentagem, pouco mais de 2% estão nas geleiras (em estado sólido) e, portanto, menos de 1% está disponível para consumo. Esse 1% de água doce disponível para consumo está nos rios, lagos e águas subterrâneas.

O mais chocante é que grande parte dessas poucas fontes está sendo poluída, contaminada e degradada por práticas humanas inadequadas.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as mudanças climáticas observadas nas últimas décadas contribuíram para a escassez da água em vários lugares do mundo e agravaram a situação de mais de dois bilhões de pessoas que já não tinham acesso à água potável. De acordo com dados da organização, até 2050 uma a cada quatro pessoas viverá em um país onde a falta de água potável será crônica.

Matéria 4: uso de água fornecida e armazenada em caixa d'água instalada em residência. Fundação Renova. Foto para conteúdo de marca.
Crédito: Gustavo Baxter/Nitro Histórias Visuais

Inimaginável pensar nisso, no desequilíbrio entre várias regiões do mundo, provocando consequências indesejadas.

O Aqueduct Water Risk Atlas, produzido pelo World Resources Institute (WRI), avalia estresse hídrico, riscos de seca e enchentes em cidades e regiões de 189 países. Ele mostra que um quarto da população do mundo enfrenta estresse hídrico “extremamente alto”. Prevê-se que a demanda por água aumente em até 30% até 2050, impulsionada pelo crescimento populacional, desenvolvimento socioeconômico e mudanças nos padrões de consumo. Os conflitos relacionados com a água e a instabilidade política poderão potencializar a situação.

Segundo os dados, os países com maior problema de falta de água no mundo estão concentrados principalmente no Oriente Médio: Catar, Israel, Líbano, Irã, Jordânia.

Apesar do Brasil concentrar a maior reserva de água doce do mundo, observamos grandes disparidades entre as regiões alternando períodos de seca e de muitas chuvas.

E como tem sido a gestão desse recurso finito? Análise de imagens de satélite do território entre 1985 e 2020 feita pela equipe do MapBiomas indica uma tendência de perda de superfície de água em todos os biomas do país.

“Mudanças no uso e cobertura da terra, construção de barragens e de hidrelétricas, poluição e uso excessivo dos recursos hídricos para a produção de bens e serviços alteraram a qualidade e disponibilidade da água em todos os biomas brasileiros. Ao mesmo tempo, secas extremas e inundações associadas às mudanças climáticas aumentaram a pressão sobre os corpos hídricos e ecossistemas aquáticos”, explica Carlos Souza, coordenador do GT de Água do MapBiomas.

“Se não implantarmos a gestão e uso sustentável dos recursos hídricos considerando as diferentes características regionais e os efeitos interconectados com o uso da terra e as mudanças climáticas, será impossível alcançar as metas de desenvolvimento sustentável”, alerta.

E esse é o alerta, é necessário a promoção da gestão sustentável dos recursos hídricos se quisermos garantir a nossa sobrevivência na terra. Ninguém vive sem água! Portanto nós, enquanto sociedade, precisamos fazer a nossa parte, garantindo um papel de protagonista nessa história. Precisamos acabar com o mito da abundância e pensar em promover ações para evitar a escassez.

Ou teremos que enfrentar as consequências que afetarão substancialmente a produção de alimentos, a produção de energia elétrica, o abastecimento das cidades, bairros, residências, a saúde da população, além de prejudicar outros setores como turismo, gerando impactos, sociais e econômicos.

Vamos refletir e fazer a nossa parte?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.