Sem dúvida alguma o avanço do novo coronavírus (Covid-19) pelo mundo já deixou rastros maléficos e muitas incertezas na conjuntura econômica global. A cada dia que passa e a cada país atingido pela confirmação do vírus, tem aumentado a preocupação com as cadeias globais de suprimento, mercado financeiro, comércio, faturamento das empresas e perspectiva de crescimento do PIB mundial.
No mercado financeiro, por exemplo, a disseminação do coronavírus já deixa sinais claros de preocupação. A bolsa de valores de Xangai, que reabriu, no último dia 3, teve forte queda de 7%. Após a confirmação do primeiro caso do Covid-19 no Brasil também seguiu o mesmo rumo com queda histórica.
Até mesmo o importante índice americano S&P (500), que representa as ações das principais empresas americanas cotadas nas bolsas de NYSE/NASDAQ, já dá sinais claros de preocupação com a disseminação da epidemia. O índice chegou a cair mais de 10%, sem precedentes históricos nesse patamar de queda.
Neste momento, no entanto, não há como efetivamente mensurar os impactos do coronavírus. Especialistas da área econômica do mundo inteiro são unânimes em já revisar para baixo o crescimento do PIB mundial. Se antes tínhamos uma previsão do PIB mundial em 3,1% para este ano, hoje a expectativa é de que não chegue ao patamar dos 3%.
Isso porque, em grande parte, o epicentro da crise surgiu na maior econômica do mundo, a China, que representa cerca de 20% do PIB global. A economia chinesa que já vinha em gradativo processo de desaceleração de crescimento econômico, com o Covid-19 acaba por acentuar ainda mais a queda do seu PIB, com perspectivas iniciais de redução de 0,5% no ano de 2020.
Evidentemente que, em um primeiro momento, o impacto da queda do PIB chinês na economia dos diversos países do mundo dependerá do nível de integrações comercial e financeira do país em análise com a China.
No caso do Brasil, quem tem a China como principal parceiro comercial (exportação/importação) é certo que seremos fortemente atingidos. Alguns contratos de exportações de commodities para a China, por exemplo, já foram imediatamente cancelados. Com a menor demanda, o preço das commodities também tende a cair, o que prejudica a nossa balança comercial e o PIB do país que, inclusive, especialistas já revisaram para baixo (-0,3%) no ano de 2020.
O preço da soja em grão, do petróleo e do minério de ferro que representaram em 2019 próximos de 80% das exportações brasileiras, já demonstraram quedas significativas. O petróleo, por exemplo, caiu por volta de 15 % desde meados de janeiro 2020.
Como forma de mitigar os efeitos dessa nova epidemia é normal os governantes adotarem políticas macroeconômicas chamadas de anticíclicas. É o caso da economia norte-americana, que teve o Federal Reserve (Fed, banco centro americano) anunciando queda extraordinária de - 0,5% da sua taxa de juros.
Aqui no Brasil também acredito que o Banco Central deverá seguir com a redução da taxa básica de juros, Selic, com intuito de reduzir o impacto negativo do coronavírus no PIB. Todavia, embora haja espaço para uma nova redução (inflação controlada +-3,5% a.a. e PIB baixo 1,1% a.a.), essa medida poderá não ser suficiente, pois a taxa Selic já vinha caindo paulatinamente e o seu resultado na demanda agregada do país não foi animador (PIB cresceu apenas 1,1% em 2019). Cabe ressaltar que, em 2015, a taxa Selic atingiu 14,25% a.a. e, hoje, a taxa está no menor patamar histórico: 4,25% a.a
Ainda que o novo coronavírus tenha deixado sinais negativos e incertezas na economia mundial, acredito que neste momento, embasado nos atuais casos confirmados de infecção do vírus no mundo, ainda é cedo para pensarmos em uma grande recessão econômica. Mesmo porque não sabemos ao certo precisar a causa e a “amplitude” dessa nova epidemia.
Por ora, o que se observa é um movimento das principais economias do mundo no sentido de monitorar de perto a disseminação do coronavírus e de se antecipar a uma possível recessão econômica por meio de políticas macroeconômicas anticíclicas (monetárias e fiscais). É nesse sentindo que têm agido os presidentes dos bancos centrais do G7 (grupo das sete maiores economias do mundo) e devem ser seguidos pelos demais países.
Este vídeo pode te interessar
*O autor é doutor em Economia Aplicada e professor de Ciências Econômicas da Universidade Santo Amaro (Unisa)
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.