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É economista, professor universitário, pesquisador e doutor em Ciências Contábeis

Alta do dólar no Brasil é um ataque especulativo?

Falar que o mercado financeiro está especulando com o Brasil é desnecessário. Claro que está, mas só porque estamos dando espaço para isso com nossa incerteza

  • Felipe Storch Damasceno É economista, professor universitário, pesquisador e doutor em Ciências Contábeis
Publicado em 10/07/2024 às 11h55

O preço do dólar disparou e em 6 meses já ficou por volta de 15,47% mais caro (valores do dia 3/7). Pensando em economia, a taxa de câmbio é um instrumento muito importante e cumpre um grande papel como indicador nos mercados de bens e serviços. Quando a taxa de câmbio aumenta, os bens importados ficam mais caros, mas não só. As commodities também ficam mais caras, pois os contratos são feitos em dólar, pela característica exportadora.

Desse modo, precisamos pagar mais caro por alimentos básicos e matérias-primas da indústria em geral. É um processo inflacionário que vai impactar na propensão do Banco Central em alterar a taxa Selic, parar precipitadamente as quedas (como vimos na última reunião do Copom) ou criar um viés de alta. Dólar alto é bom para exportadores, mas é ruim para a sociedade brasileira em geral.

A questão é: o que está acontecendo?

Primeiro, é importante ressaltar que o câmbio é o agregado econômico mais difícil de ser previsto, pois está sujeito a muitos choques internos e externos, além de ter uma volatilidade muito grande. Segundo, vamos pensar nos fatores que estão afetando o câmbio ultimamente. Pensando no setor externo, vemos o mundo com bastante incerteza, com guerras importantes em vigor e com o mundo desenvolvido trabalhando com taxas de juros altas. Todos esses fatores atraem os investidores para os mercados desenvolvidos, que são mais seguros e estão pagando bem. Olhando para dentro do Brasil, existem muitas incertezas criadas por um ambiente econômico-político muito complexo.

O lado fiscal da economia tem muito risco, com o governo evitando reduzir despesas, aumentando gastos e pressionando o Congresso para aumentos de receita. O arcabouço fiscal, hoje, não parece que será cumprido e o medo estag-inflacionário deixa os investidores muito ariscos.

As falas do presidente Lula também cumprem um papel importante na alta do dólar. A agressividade política em relação à economia cria um ambiente de risco pois a contabilidade criativa, a nova matriz energética, a política de campeões nacionais e a ingerência sobre o Banco Central ainda estão muito vivos na nossa memória e nos fizeram perder mais uma década (em 2023 ainda não recuperamos o nível de PIB per capita que tínhamos em 2014).

Falar que o mercado financeiro está especulando com o Brasil é desnecessário. Claro que está, mas só porque estamos dando espaço para isso com nossa incerteza e com a ansiedade dos investidores que geram muita volatilidade no mercado e espaço para arbitragem.

Câmbio em crise: Brasil tem dificuldades de controlar a alta do dólar
Alta do dólar. Crédito: Pixabay

Hoje nós somos classificados como grau especulativo e é esse tipo de capital internacional que conseguimos atrair. O capital bom, de longo prazo, não pode vir para o Brasil pois ele só pode investir em locais seguros e nós não somos vistos como esse lugar para investimentos.

O dinheiro que aceita risco é muito volátil. Reclamar desse capital também não adianta. Ele vai continuar sendo volátil e aproveitando os momentos de oportunidades de arbitragem. O que precisamos é acertar os fundamentos econômicos que nos façam ser mais seguros e assim possamos atrair o bom capital.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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