Mudanças de governo nos Estados Unidos afetam sempre todo o mundo. A intensidade varia em função das variáveis políticas, do tempo, das personalidades da época. No presente momento, as condições estão dadas para que a mudança de guarda em Washington DC repercuta fortemente no mundo em geral, e no Brasil de maneira especial.
É preciso ter em mente que os EUA detêm não apenas a mais dinâmica economia do planeta, mas também são o maior promotor cultural, o mais intenso divulgador de ideias, o maior criador de notícias e de tecnologias para divulgá-las. O que acontece ali é transportado de pronto para todos os confins, e causa maior ou menor impacto em função da receptividade das demais lideranças e da opinião pública dos demais países.
Não é exagero dizer que, hoje (20), a grande maioria das lideranças do planeta aguarda com ansiedade a posse de Joe Biden e o restabelecimento de um ambiente de normalidade nas relações internacionais. A política externa de Donald Trump opôs-se ao multilateralismo, sem propor uma alternativa que satisfizesse os demais parceiros. Insurgiu-se contra as Nações Unidas, contra os avanços ambientalistas, contra os direitos humanos, contra seus parceiros na Europa e na América do Norte. Ao exigir a “América primeiro”, acabou deixando-a sozinha. Ou quase: alguns poucos países seguiram-no nessa rota insensata. Um destes, infelizmente, foi o Brasil.
É de se esperar uma intensa atividade diplomática nos próximos meses, até porque a superação da pandemia exige coordenação em escala global e, para tanto, convém reativar os organismos internacionais. Biden já anunciou que vai recompor as alianças tradicionais e resgatar os temas multilaterais que foram prioridades americanas de 1945 até a exceção trumpista.
Não vejo como o Brasil possa participar desse esforço com a atual equipe de governo. Ora, participar das negociações é interesse primordial da economia do país, isso de ser pária não faz sentido para quem tem um comércio externo tão dinâmico quanto o nosso (isso para falar apenas em comércio).
Assim, considerando que o governo quer colocar o interesse do Brasil acima de todos; considerando a prioridade de nos sentarmos à mesa de negociação e defender uma agenda pós-Trump adequada às nossas necessidades; considerando, por fim, que os ministros Ernesto Araújo, Ricardo Salles, Damares Alves e Eduardo Pazuello comprometeram-se com políticas que, aos olhos do mundo, só fariam sentido sob o guarda-chuvas trumpista, é de prever a sua breve exoneração dos respectivos ministérios.
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O autor é embaixador aposentado
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