Duas notícias recentes ilustram bem o drama que enfrentamos em relação ao apagão de mão de obra no Brasil. De um lado, empresas enfrentam dificuldades para contratar cientistas de dados: pesquisa da consultoria ZRG Brasil indica escassez de profissionais no mercado. Enquanto isso, o IBGE constata: o índice de jovens entre 15 e 29 anos que nem estudam nem trabalham chegou a 25,5% no último trimestre de 2020, a maior alta desde 2012.
Há um evidente descompasso entre as necessidades das empresas, de todos os setores, e a qualidade do capital humano disponível, apesar da taxa de desemprego de 14%. Ocupações ligadas à tecnologia são especialmente afetadas, mas não é um caso isolado: a escassez de mão de obra é um problema generalizado.
Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 50% das empresas enfrentam dificuldade para contratar trabalhador qualificado. No Espírito Santo, o levantamento contou com a colaboração do Ideies, e o índice é um pouco maior: 53%. A ausência de profissionais qualificados afeta diretamente a produtividade das empresas, que, para contornar o problema, acabam investindo por conta própria na capacitação de seus colaboradores.
Como superar esse desafio e assegurar a competitividade do país? A qualificação de nossa mão de obra, o aumento da produtividade e o crescimento sustentado da economia dependem, essencialmente, da melhoria da educação básica e da ampliação da oferta da educação profissional, alinhada às demandas do setor produtivo.
Um dos caminhos para formar profissionais capacitados e ao mesmo tempo promover o acesso dos mais jovens ao mercado de trabalho é investir na educação profissional e tecnológica (EPT). No Education at a Glance 2020, uma publicação da OCDE, o Brasil, infelizmente, ainda está entre os países com menor percentual de matrículas na EPT. Considerando os anos finais do ensino fundamental até os cursos sequenciais de formação específica, apenas 8% das matrículas correspondem à EPT no país, enquanto na média dos países pesquisados elas representam 30%.
Existem ótimos exemplos mundo afora que poderiam nos inspirar nessa jornada. Na Dinamarca e na Noruega, por exemplo, existem programas de aprendizagem que envolvem treinamento simultâneo baseado na escola e no trabalho. Já na Áustria, Alemanha e Suíça existem sistemas duplos de aprendizagem em programas que envolvem períodos alternados de frequência em instituições educacionais e participação em treinamento no trabalho.
O Plano Nacional de Educação (PNE) mostra que a educação profissional já é parte do planejamento do país. Mas temos um longo caminho a percorrer. Em 2019, a integração da educação básica com a educação profissional não passou de 1,6%, ameaçando frustrar o plano de alcançar o patamar de 25% até 2024, como prevê a Lei Nº 13.005/14.
O Sistema Indústria tem dado a sua contribuição para apoiar o atendimento dessas metas. Contamos com o Senai, que tem como principal missão justamente formar profissionais para a indústria nacional, promovendo uma educação profissional e tecnológica, contribuindo para o aumento da competitividade do país. O Senai também tem um histórico de oferta de cursos gratuitos, o que aumenta a oportunidade de acesso de pessoas de baixa renda ao ensino técnico, de qualificação ou de formação inicial continuada.
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Tudo considerado, penso que temos um desafio de enormes proporções para vencer o apagão de mão de obra, aumentar a competitividade e a produtividade do país e inseri-lo na agenda do século 21. Já contamos com o diagnóstico e um plano nacional de educação. O que precisamos agora é de promover a sua implantação com maior velocidade. Com 14 milhões de desempregados e o crescimento da geração “nem-nem”, não temos tempo a perder.
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