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É mestre em Comunicação, pesquisador da Imigração, professor universitário, jornalista e escritor

Apagão no Itamaraty deixou Brasil à deriva no cenário internacional

Enquanto espera o novo nome que conduzirá o Ministério das Relações Exteriores, só resta ao Brasil torcer para que a condução da política externa do país retome a luz ao farol da diplomacia

  • Rodrigo Lins É mestre em Comunicação, pesquisador da Imigração, professor universitário, jornalista e escritor
Publicado em 30/03/2021 às 02h00
Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em Brasília
Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em Brasília. Crédito: Reprodução/Divulgação

dificuldade do Brasil em obter acesso às vacinas ou insumos para sua produção não é um acidente. O descrédito do Brasil no exterior, a falta de suporte aos brasileiros que residem fora do país, a ausência de uma política externa clara e protecionista aos produtos brasileiros no comércio internacional são parte de uma coleção de erros ideológicos e escolhas políticas malfadadas que, hoje, cobram seu preço dentro e fora do Brasil. Ao longo dos últimos dois anos, o que vimos no Ministério de Relações Exteriores brasileiro foi uma ruptura paradigmática da diplomacia que demorará décadas para se recompor.

Uma fragmentação desnecessária, não apenas para obtenção de benefícios internos ao país, mas também para assegurar a proteção da gigantesca parcela da comunidade brasileira que reside no exterior e que, somente até abril de 2020, dado mais recente, mandou US$ 358 mil dólares por hora para o Brasil. O levantamento mostrou que os brasileiros que tentam a vida no exterior nunca mandaram tanto dinheiro para as famílias que ficaram no Brasil, sobretudo durante a pandemia.

O envio de dinheiro estrangeiro para o Brasil aumentou gradativamente desde 2015, quando o país entrou em recessão, mas a pandemia gerou um empurrão extra, e as remessas enviadas de países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão bateram recorde histórico: US$ 3,098 bilhões nos 12 meses encerrados em abril de 2020.

Os números do Banco Central mostram que o Brasil parece ter voltado duas décadas no cenário da emigração. Desde março de 2019, a remessa de brasileiros que vivem no exterior sobe sistematicamente mês a mês e, pela primeira vez na história no ano passado, superou o recorde observado em meados da década de 1990.

Números extremamente relevantes, mas que parecem ignorados pela atual gestão do Itamaraty que enfraqueceu consulados e paralisou, desde o início da pandemia, serviços extremamente importantes para cidadãos e empresas brasileiras que vivem e funcionam nos EUA, por exemplo. A sensação da comunidade brasileira que reside no país norte-americano é de completo abandono.

Durante a pandemia, sem suporte ou informações dos consulados brasileiros nos Estados Unidos, empresas brasileiras se uniram para buscar ajuda do governo americano e peticionar aos pacotes de ajuda econômica para manterem-se em funcionamento e preservarem a geração de empregos - com a maioria de empregados brasileiros. Último dado do mapa bilateral de investimentos Brasil-USA mostrou que as empresas brasileiras geraram mais de 74.200 empregos diretos nos EUA.

RECLAMAÇÕES SOBRE SERVIÇOS CONSULARES

No que consiste ao apoio consular aos brasileiros na pessoa física, cresce o número de reclamações entre a comunidade brasileira que necessita de serviços consulares nos EUA. O prazo para emissão de passaportes - somente em regime de urgência - ultrapassou dois meses de espera segundo o próprio cônsul-geral do Brasil em Miami-FL, em divulgação a canal de notícia local da comunidade na Flórida.

Após a suspensão da entrada de brasileiros nos Estados Unidos  no ano passado, inúmeros brasileiros que residiam nos EUA, mas estavam fora do país, buscaram auxílio do Ministério das Relações Exteriores para ingressar no país. O caso mais emblemático foi dos estudantes brasileiros que necessitavam retornar aos EUA e que, em muitos casos sem respostas do MRE, tiveram que aguardar a quarentena em outros países como o México, por exemplo, para conseguir a reentrada em solo americano.

O que temos observado no Itamaraty é a execução de uma política ideológica que rompe com o ideário da construção de pontes e manutenção de relações exteriores com todos os países, independentemente de suas vertentes ideológicas. O preço por essa nova escolha política é o completo isolamento do Ministério de Relações Exteriores brasileiro em demandas urgentes.

APATIA NA CORRIDA ELEITORAL NORTE-AMERICANA

Internamente, nos EUA, não houve nenhuma movimentação pública da embaixada brasileira em Washington ou dos consulados brasileiros no país, ao longo da corrida eleitoral americana, que objetivasse uma aproximação diplomática à plataforma democrata de Joe Biden. O presidente brasileiro foi um dos últimos a reconhecer a vitória de Biden e apontou fraudes na eleição do democrata, dando vazão ao discurso de Trump até o fim da transição de poder nos EUA.

O resultado: o isolamento completo do Brasil nas relações exteriores com os EUA, nesta nova gestão. O fenômeno já acendeu sinal vermelho para exportadores brasileiros que podem sofrer sanções comerciais aos seus produtos nos EUA, o segundo maior parceiro comercial do Brasil para muitos produtos. Sem apoio e referência, empresas brasileiras que se internacionalizaram para o país norte americano, buscam suporte autônomo em consultorias privadas para estudar o cenário político e econômico e buscar uma aproximação com o novo governo americano.

Agora, enquanto espera o novo nome que conduzirá a pasta, só resta ao Brasil torcer para que a condução da política externa do país retome a luz ao farol da diplomacia ou seguiremos mantendo o apagão no MRE que deixará marcas profundas, que a história julgará, principalmente no exterior.

*Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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