Autor(a) Convidado(a)

As cinco camadas que erguem uma cidade inteligente de verdade

Cidade Inteligente é aquela que faz uso das tecnologias para captação de dados e informações sobre hábitos, usos e costumes dos seus habitantes, que são transformados em conhecimentos que orientam políticas públicas mais adequadas

  • Leopoldo Albuquerque
Publicado em 04/03/2020 às 15h03
Não é só a tecnologia que faz as cidades inteligentes. Crédito: Pixabay
Não é só a tecnologia que faz as cidades inteligentes. Crédito: Pixabay

A Cidade Inteligente não é uma cidade “digital” exclusivamente ou que dispõe de recursos tecnológicos modernos que apenas ofereceriam maior comodidade aos usuários, os seus cidadãos.

A Cidade Inteligente é aquela que faz uso das tecnologias para captação de dados e informações sobre hábitos, usos e costumes dos seus habitantes, que são transformados em conhecimentos que orientam políticas públicas mais adequadas às demandas dos cidadãos.

A reparar que as grandes empresas e organizações de Tecnologia da Informação já atuam captando essas informações que vertem em serviços para os cidadãos, aqui tratados na condição de consumidores e clientes.

Não por acaso considera-se um risco que tais corporações detenham mais informações que a própria administração pública, o que lhes confere poder para interferir em decisões estratégicas que atendam ao seu interesse e esses, nem sempre, coincidem com a coletividade, aqui tratada meramente como “mercado”.

A noção de Cidade Inteligente abrange uma estrutura de cinco camadas a serem consideradas de forma integrada, cada uma requerendo um plano específico.

PRIMEIRA CAMADA

A primeira camada é o levantamento e o conhecimento do seu habitante, como ele vive, quais suas expectativas, quais seus valores, quais as suas dificuldades. Nesse aspecto busca-se uma ação sinérgica entre o poder público, o setor produtivo, entidades de classes, população em geral para conciliar as demandas em um Plano Mestre de Cidade Inteligente que acolha também conceitos da Economia Criativa, nova fronteira da economia que abarca o potencial da arte, cultura e entretenimento como valores de um mercado consumidor.

SEGUNDA CAMADA

A segunda camada da Cidade Inteligente é o seu subsolo. Entender como funciona o subsolo e a trama das redes de esgoto, água, telefonia, energia, fibra ótica, etc. A disponibilização de tecnologias como tubulações sensorizadas permite geração de dados que informam os serviços de manutenção desses sistemas e se estendem a bueiros inteligentes, ar-condicionado, água quente, que não apenas se mostram mais econômicos como contemplam a sustentabilidade ambiental e mesmo a estética urbana, despoluindo-a visualmente.

TERCEIRA CAMADA

A terceira camada é o solo, a superfície urbana onde as cidades têm suas funções urbanas reconceituadas pelo conceito de “Viver, Aprender e Divertir-se”, dentro do conceito 5/10/15. É a concepção de nucleamentos urbanos que reúnam moradia, trabalho, educação e diversão de modo a evitar grandes deslocamentos, arrefecendo a mobilidade urbana. Tudo o que as pessoas devem fazer no dia a dia deve estar, no máximo, a cinco minutos a pé. Tudo o que fazem semanalmente, a dez minutos a pé, e as atividades mensais, a quinze minutos a pé.

A inibição do carro enquanto transporte individual está considerada nessa proposta, com a implantação de estacionamentos rotativos para compartilhar o uso do espaço urbano pelos motoristas e promover ações de micromobilidade, arrumando as calçadas para que as pessoas se desloquem a pé e privilegiar modais como bicicletas, patins, skates, patinetes, etc.

O Plano Diretor da Cidade deve instituir a obrigatoriedade de novos procedimentos como o das construções serem dotadas de sistemas inteligentes de água de chuva, reúso, sistemas fotovoltaicos para geração de energia e sistemas de descarte de lixo observando uma visão de integração e sustentabilidade.

QUARTA CAMADA

A quarta camada se refere à infraestrutura tecnológica – que alguns gestores equivocadamente entendem que resume a cidade inteligente. Essa infraestrutura é composta por um parque de iluminação inteligente com sensores de captação instalados em cada poste que disponibilizam dados de várias naturezas - desde o fluxo de tráfego à variação da intensidade da iluminação, segundo o horário e o local, para aspectos da segurança.

Esses pontos são conectados por enlaces de fibra ótica que alimentam uma central de operações que tabula, processa e extrai as inferências que ditam as decisões de cada operação. Isso proporciona o consumo racional da energia, proporcionando economia e a disponibilização de wi-fi para toda a população.

QUINTA CAMADA

A quinta camada é a plataforma de Internet das Coisas (IoT) em que a inteligência artificial faz a gestão das informações a partir da interconectividade dos equipamentos, produzindo relatórios gerenciais e o monitoramento do complexo tecnológico da cidade, voltado para os variados sistemas: segurança, saúde, educação e outros.

Essas cinco camadas não são superpostas cronologicamente, mas devem ser implementadas simultaneamente para operarem de forma integrada. Requerem por isso um Plano Mestre para prevenir que as tecnologias não operem de modo avulso, desconectado, comprometendo o conceito essencial da Inteligência que é a percepção do conjunto.

As soluções inovadoras importantes para o desenvolvimento de econômico, financeiro e social serão os norteadores do Smart City Business America Forum, que acontece nos dias 23 e 24 de março, no Centro de Convenções de Vitória.

O autor é presidente do Instituto Smart City Business America (SCBA)

A Gazeta integra o

Saiba mais
Mobilidade Urbana tecnologia

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.