O debate em torno da desigualdade social no Brasil é grande. E o consenso de que há muito a ser feito, e com urgência, também. Mas, apesar das boas intenções, me parece que há um descompasso entre o que pode ser feito, efetivamente, e o que seria necessário ser feito.
Há inúmeras propostas e iniciativas vindas de governos, iniciativa privada, ONGs e cidadãos comuns. Ao que tudo indica, entretanto, não estamos reduzindo a desumana realidade social em que vivemos, com maior velocidade.
Comprovando esse meu senso de urgência, destaco um dado da reconhecida Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): os mais pobres podem levar até nove gerações para atingirem a renda média no Brasil. Se acrescentarmos a isso o pouco progresso econômico do país nos últimos anos, acho que, para muitos deles, sozinhos, com seus próprios esforços, essa ascensão não existe.
Quando muitos de nós nos deparamos com esses dados, a reação imediata é de tentar ajudar. E o desejo é de, ao menos, encurtar esse elevador social. Para isso, algumas ações são prioritárias, como gerar empregos. Há, ainda, a prática dos programas de transferência direta de renda, direcionados às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, entre outras.
Mas nada traz resultados mais efetivos e exponenciais do que a educação, formal e profissional. Sou presidente do Instituto Ponte, um projeto social que tem o propósito de fazer a ascensão social de jovens em situação de vulnerabilidade social, em poucas gerações. São adolescentes e jovens talentosos que, com a ajuda de muitos parceiros, estão conectados a uma educação de alta performance e, portanto, transformadora.
Após sete anos de existência, temos conseguido mudar a dramática estimativa de nove gerações da OCDE para apenas uma. Desde que iniciamos esse trabalho, dezenas de estudantes que ingressaram no projeto, oriundos de escolas públicas e sem muitas perspectivas de futuro, estão fazendo faculdades pelo Brasil afora, com performance similar aos demais colegas que tiveram mais oportunidades na construção de suas vidas escolares.
São jovens como Larah Dias e Marlon Borges, atualmente cursando Medicina, ou Matheus Leite, Pedro Lima Arthur Pansini e Isabella Amorim fazendo Engenharias, ou mesmo Vanessa Rodrigues, aluna de Farmácia. Todos aprovados em conceituadas faculdades e universidades públicas ou privadas, como Unicamp, Insper, UFRJ, UFMG, Ufes e outras.
Nossos alunos já chegaram lá. Todos vieram de família com renda até um salário mínimo per capita e hoje 19 deles são universitários. Alguém aqui tem dúvida que a história deles e de suas famílias serão bem diferentes em uma geração? Eles estão mudando as estatísticas porque tiveram uma boa educação e bons exemplos.
Mas não são só esses que terão suas vidas transformadas. Neste ano, o Instituto Ponte soma 196 adolescentes que estão tendo a mesma oportunidade. Eles estão matriculados em boas escolas, estudam inglês e recebem acompanhamento pedagógico e psicológico.
São jovens que terão uma realidade de vida muito diferente da que estavam “predestinados”. Poderão sustentar suas futuras famílias dignamente, oferecendo uma educação de qualidade aos filhos, viajando nas férias, tendo uma internet rápida. Pequenas conquistas aparentemente simples, mas inacessíveis para a grande maioria dos brasileiros que nasceu pobre.
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A educação de qualidade, sem dúvida alguma, é uma das ferramentas mais eficazes para a redução da desigualdade de renda e dos seus efeitos nocivos, em especial, no quesito oportunidade e ascensão social. E nós podemos fazer mais. Por isso, estamos abertos a mostrar estes e outros resultados que registramos nesses sete anos de existência do Instituto Ponte, celebrado no último mês de agosto. Venha nos conhecer!
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