Imersos na crise sanitária e econômica mais abrangente da história, começamos a terceira década do século 21 sob o signo da dúvida. Será que o progresso sem limites levou um xeque-mate? O ponto de inflexão é o fato de um microrganismo atravessar os paralelos e meridianos da Terra ignorando barreiras de segurança, desestabilizando estruturas consideradas estáveis, desafiando a ciência e as tecnologias mais avançadas.
Por um lado, vimos escancarar as dificuldades da população pobre, sem recursos para cumprir o protocolo mínimo de autoproteção, sem saneamento básico, sem moradia adequada, sem água para lavar as mãos. Embora sob a mesma tormenta, não estamos todos no mesmo barco e a desigualdade é a maior ameaça ao bem comum, até mesmo em oásis de abundância.
Por outro lado, o isolamento social acelerou a revolução tecnológica que impôs o modelo remoto de trabalho, estudo e convivência. Surge um mundo híbrido, com relações e interações cada vez mais mediadas por novas tecnologias. A pesquisa "TIC Domicílios 2020" mostrou que o uso da internet no Brasil chegou a 152 milhões de pessoas, ou seja, 81% da população acima de 10 anos. No entanto, temos 19% sem acesso, isto é, mais de 35 milhões de brasileiros são excluídos digitais. No Espírito Santo cerca de 85% dos domicílios tem acesso à internet (PNAD2019).
É um contexto marcado por várias faces da exclusão ao mesmo tempo que aumenta a conexão das economias, a internacionalização dos mercados, a circulação de pessoas e a dependência tecnológica ampliando os impactos diretos no mundo do trabalho.
Resistindo às várias formas de precariedade, cerca de 40 milhões de pessoas receberam o Auxílio emergencial até outubro de 2021, e, no próximo ano, 17 milhões de famílias devem continuar assistidas pelo governo federal (mais de 60 milhões de pessoas).
No Espírito Santo, 87 mil famílias em situação de extrema pobreza recebem o Cartão ES Solidário (300 mil pessoas com renda per capita mensal de até R$ 250). Antes da pandemia, em 2019, o IJSN mostrou 23% da população capixaba em condições de pobreza (14% na extrema pobreza).
Hoje estudos mostram que 40% da população capixaba não tem como se manter sem algum auxílio. Por enquanto, o exército de vulneráveis é paliativamente assistido por auxílios governamentais, ações solidárias das igrejas e das organizações da sociedade civil.
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Na “modernidade líquida”, onde empregos são destruídos com mais rapidez do que a implementação de políticas públicas para salvá-los, torna-se urgente a reinserção produtiva de milhões de trabalhadores desempregados e/ou despreparados para se inserirem nesse mundo que se descortinou a partir da pandemia. Mais que “bicos” ou “subempregos” o principal desafio para a proteção social é a reinserção produtiva.
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