Mesmo quem não assiste ao "Big Brother Brasil" nesta edição de 2021 está sendo bombardeado de informações sobre o programa nas redes sociais. Vídeos, imagens, textos, análises, debates. E a discussão sobre a violência psicológica tem vindo à tona.
Lucas Penteado, um dos participantes, vinha sendo constantemente agredido emocionalmente pelos colegas, isolado na casa e se mostrando acuado. No último final de semana ele se revelou bissexual, beijou um outro rapaz e, no mesmo, dia, foi novamente julgado por outras pessoas da casa – as mesmas que já o atacavam. Teve sua bissexualidade questionada, seu desejo invalidado e, não suportando a pressão, saiu da casa.
O que desejo escrever aqui não é sobre o programa em específico, mas sobre como a violência psicológica pode ser grave. Antes de tudo, é importante entender que as pessoas que agridem não são monstros – são pessoas iguais a cada um de nós. Todos nós temos a possibilidade de agir mal, muito mal, com outra pessoa. Por isso, quando julgamos os participantes que machucaram Lucas, precisamos também refletir sobre nossas próprias ações.
Quantas vezes não tentamos impor nossa verdade no grito? Quantas vezes não isolamos e afastamos pessoas que considerávamos incômodas? Pode ser que não tenhamos feito da mesma forma e no mesmo nível, mas é fundamental que passemos a refletir com cuidado sobre a nossa relação com as outras pessoas, especialmente as que nos irritam ou que consideramos muito diferentes de nós. Não nascemos prontos e nem somos perfeitos. O próprio Lucas cometeu alguns erros na casa. Mas devemos punir indefinidamente as pessoas pelos seus erros?
Lucas é um jovem negro. Ele buscou trazer para a discussão a questão do racismo. Se ele fez da melhor forma ou não, sinto que não é meu papel avaliar. Mas é fato que ele fazia algumas considerações interessantes. No entanto, era tido como agressivo, perigoso, problemático. Foi excluído. Ele, que relatou ter sofrido racismo e exclusão em outras situações da vida, foi excluído mais uma vez. E isso deve ter sido profundamente sofrido.
Excluir, expulsar, abandonar: o quanto fazemos isso?
Você pode votar para eliminar as pessoas que agrediram psicologicamente o Lucas. Mas o quanto isso resolve? Aliás, o quanto resolve ir nas redes sociais desses participantes para ofendê-los? Entendo a raiva. É humana. Mas é necessário entender que o outro – aquele que abusa, que faz maldade – é espelho de nós mesmos.
Toda a situação que se dá no "BBB" mexe com o que pode haver de mais odioso em cada um de nós. Podemos ser odiosos também: essa é a verdade. Abusivos, manipuladores, agressivos. Mas podemos também encerrar o ódio. Dar um basta. Talvez precisemos desligar um pouco a televisão. Sair um pouco das redes. Respirar um pouco. Frear o desejo de humilhar aqueles que humilham.
Passemos, sim, a observar atitudes abusivas em nossos ambientes de convívio. Família, trabalho, escola, grupos de amigos. Busquemos não nos omitir diante de uma humilhação. Repensemos nossas atitudes tóxicas. Aprendamos com nossos erros. Combatamos o racismo, o machismo, a LGBTfobia e tantos males. Primeiro dentro de nós mesmos. Depois no mundo ao redor.
O que vence o ódio, senão a reflexão sincera sobre nossas próprias ações prejudiciais?
A autora é psicóloga
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