Quando Elon Musk comprou o Twitter e colocou um novo nome, o “X”, escrevi na própria plataforma social que Musk é o “menino rico da rua, o dono da bola”. A brincadeira começa quando ele quer e termina quando decide que a bola já não é tão divertida e precisa encontrar um novo “toy” para dedicar seus esforços. É um ciclo. Logo mais o assunto cairá em marasmo, e ele procurará outro tópico para “twittar”.
No entanto, Musk não é criança. Ele se comporta como tal — mas não é. E isso, na vida adulta, é um perigo, principalmente quando você tem ao seu favor o dinheiro, totalizando pouco mais de 189 bilhões de dólares, segundo dados da Forbes em 2024, e a influência.
Além disso, ele sabe o poder que tem e sabe muito bem como utilizá-lo; ao comprar o antigo Twitter, ele reconhece o poder da comunicação e, em especial, a comunicação feita nas redes sociais. Musk é um estrategista, sabe quais peças movimentar no tabuleiro da opinião pública e na política.
E é neste momento que o Brasil, mais uma vez, tem a oportunidade para a regularizar as mídias digitais, a fim de combater a proliferação das fake news e ir além, incluindo nos currículos escolares a educação política e midiática. Isso é urgente, já que a cada dois anos o Brasil passa por eleições (presidenciais e municipais) e cada vez mais os discursos — de ódio — estão se polarizando. O país teve a oportunidade nas eleições de 2018, nas de 2022, no golpe do dia 8 de janeiro de 2023 e tem agora.
O Projeto de Lei 2630/2020, foi engavetado no Legislativo, percorreu um caminho de idas e vindas. Isso não é totalmente ruim, pois ajuda a ganhar mais robustez e promove o desenvolvimento de um debate mais completo.
No entanto, enquanto isso não acontece, o Judiciário assume as responsabilidades de fiscalizar e tentar impedir que os algoritmos e a internet continuem a funcionar da forma como é no Brasil, sem regulamentação, como uma “terra de ninguém” onde as pessoas utilizam a liberdade de expressão garantida na Constituição como chancela para disseminar notícias falsas e instilar preconceitos.
Entretanto, pessoas como Musk surgem de tempos em tempos, e o dinheiro em um sistema que valoriza o capital faz com que ele permaneça na roda, circule nos espaços, ganhe adeptos e “curtidas” em cima das suas opiniões e bandeiras. Para ele, o embate contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é “divertido e estressante”. Bem típico das redes sociais, ambiente que permite a revolta social, mas promove diversão ao mesmo tempo, por meio das telas.
Ao publicar breves textos em sua rede social, Musk promove um desserviço para a democracia brasileira, que nos últimos anos vive sob ataques. E inflama o debate político para um ângulo que não favorece o fortalecimento da pluralidade permitida, que há espaços para divergências e novas ideias, e é aqui que a liberdade de expressão tem espaço para habitar.
Na brincadeira do “o dinheiro é meu”, “compro e determino a pauta do debate da forma que quero”, ele esquece que além de não ser brasileiro, acima dele há uma Constituição no país. Com suas falhas? Sim, mas que delimita quem manda no quê. Quer cuidar dos discursos sobre liberdade de expressão? Volte a “twittar” sobre o seu país, que passará, inclusive, por eleições presidenciais turbulentas neste ano.
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