Hoje, dia 6 de maio, é comemorado no Brasil o Dia da Matemática. Sim! Existe um Dia da Matemática. A data foi escolhida para homenagear o professor Júlio César de Mello e Souza, que ficou imortalizado com o pseudônimo Malba Tahan. Nada mais justo para honrar a memória de alguém que retirou a tampa da caixa de Pandora matemática e não só desmistificou o “monstro”, como apresentou sua face alegre e divertida às novas gerações.
Mas, não obstante os incontestáveis avanços alcançados por iniciativas isoladas de incansáveis professores, ainda sofremos de um atraso crônico no ensino da Matemática. Se Malba Tahan vivesse em nossos dias, continuaria lutando pela popularização da Matemática e certamente veria que agora os desafios são outros.
Não se trata mais de envolver a Matemática em uma atmosfera lúdica ou em um cenário digital e sim de ampliar a compreensão de seu alcance sobre a vida real. Saber investir, interpretar gráficos de uma pandemia e até desenvolver pequenos projetos de programação deveriam fazer parte do arcabouço ferramental das atuais e futuras gerações.
Embora essa preocupação já tenha começado a se desenhar em documentos oficiais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a concretização da mudança passa pela formação acadêmica e contínua dos professores. Enquanto os programas formativos das principais universidades continuarem os mesmos do século passado, ignorando as demandas do presente e os anseios do futuro, continuaremos com déficit de profissionais criativos e inovadores e, consequentemente, estagnados na corrida pela vanguarda tecnológica.
A reestruturação curricular é apenas uma parte da solução. Pouco adianta incorporar o ensino de temas como Probabilidade e Estatística ao currículo se suas aplicações continuarem restritas a problemas com cartas e moedas. Essas, para citar apenas duas, são áreas essenciais ao desenvolvimento de atividades produtivas e à compreensão de fenômenos que ocorrem a nossa volta. Fato é que, a despeito do imenso espectro de possibilidades de aplicações dos conceitos matemáticos para intervenção na realidade, a forma como esses têm sido ensinados não traz a relevância que deveria para a vida dos alunos.
Este vídeo pode te interessar
Não podemos continuar esperando por talentos individuais e raros como o de Beremiz – o herói do livro “O homem que calculava”, cujo superpoder era o pensamento matemático – para salvar o dia ou a geração. Nossos heróis de verdade: professores de carne, osso e contas a pagar, precisam de bons programas de graduação e pós-graduação, formação continuada e incentivada, e reconhecimento compatível com sua contribuição para o desenvolvimento de um país. Enquanto nossas lideranças políticas e nós, a sociedade, não lutarmos por isso, o Dia da Matemática continuará sendo uma data para se esquecer.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.