É comum ouvirmos a frase "cada criança tem seu tempo" como forma de tranquilizar pais e cuidadores diante de diferenças no desenvolvimento infantil. Embora o ritmo de aquisição de habilidades varie de uma criança para outra, essa ideia não pode ser usada como justificativa para ignorar possíveis atrasos. O desenvolvimento infantil segue marcos estabelecidos por instituições de saúde, e quando uma criança não os atinge dentro da faixa etária esperada, isso pode ser um indicativo de que algo precisa ser avaliado.
Os primeiros anos de vida são essenciais para a formação do cérebro infantil. A neuroplasticidade – capacidade do cérebro de se modificar em resposta a experiências – é mais intensa na primeira infância. Isso significa que intervenções precoces podem fazer uma diferença significativa para crianças com atrasos no desenvolvimento da linguagem, da cognição ou da coordenação motora. A recomendação das entidades médicas é que qualquer suspeita de atraso seja investigada o mais cedo possível, pois quanto antes uma intervenção é realizada, melhores são os resultados a longo prazo.
Na fonoaudiologia, por exemplo, sabemos que a aquisição da linguagem segue etapas bem definidas. Um bebê de seis meses deve balbuciar, aos nove meses deve imitar sons, e até um ano deve começar a dizer palavras simples como "mamãe" e "papai". Se, aos dois anos, uma criança não fala pelo menos 50 palavras ou não combina dois termos (como "quero suco"), esse pode ser um sinal de alerta para dificuldades no desenvolvimento da linguagem.
Essa atenção aos marcos também se aplica a outros aspectos do desenvolvimento infantil, como habilidades motoras e sociais. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, pode se manifestar com sinais precoces, como falta de contato visual, ausência de resposta ao próprio nome e atraso na fala. Como abril é o mês de conscientização sobre o autismo, é fundamental reforçar que o diagnóstico precoce e o início rápido das terapias adequadas favorecem significativamente o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança.

Isso significa que qualquer atraso é sinônimo de transtorno? Não. Mas também não significa que deva ser ignorado. O ideal é que, ao menor sinal de que algo possa estar diferente do esperado, os pais busquem avaliação profissional. Acompanhamento com pediatras, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e neuropediatras pode trazer respostas e, quando necessário, garantir que a criança receba o suporte adequado.
Cada criança é única, mas há parâmetros que guiam seu desenvolvimento. A informação e o acompanhamento são os melhores aliados para garantir que cada uma delas tenha a oportunidade de crescer e se desenvolver plenamente.
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