Vivemos numa sociedade individualista, consumista e extremamente desigual. Neste contexto, não é fácil ser o “outro”, quem é narrado e não narrador, quem não se encaixa no padrão culturalmente sedimentado. Ser pobre, ser negro, ser mulher, ser homossexual, ser indígena, ser pessoa com deficiência e outros tantos grupos minoritários no país é nadar contra a correnteza sinuosa. Um leito social tortuoso que produz seus números, suas vítimas, seus indivíduos vistos, quase sempre, como de menor valor. Ser o “outro” é duro e quase sempre cruel!
Ver uma pessoa com deficiência em sua cadeira de rodas atropelada e debaixo de um ônibus, como ocorrido no Espírito Santo recentemente, choca! Revolta! Mas, ao mesmo tempo, é revelador. Desnuda e nos apresenta a vida real de muitos sujeitos invisíveis, em seus cotidianos de opressões, exclusão, desrespeito a direitos fundamentais. Não é fácil ser o “outro” no Brasil.
A truculência do ônibus contrasta com a fragilidade da Gisele em sua cadeira de rodas. Exposta na rua pela falta de acessibilidade. Ignorada por uma sociedade que não consegue eliminar as barreiras e, de fato, acolher a todos. Um retrato amargo e simbólico de como é necessário manter a luta por direitos e cobrar políticas públicas que resguardem os mais vulneráveis.
Todos temos o dever da indignação, sob pena da normalização dos absurdos. Porém, é preciso ir além e canalizar esse sentimento para uma ação coletiva e a formação de uma consciência transformadora. Um compromisso social para derrubar padrões e estigmas e construir um ambiente de alteridade. Olhar menos para o espelho e mais pela janela. Só assim podemos ver os “outros”.
Reconhecer que não somos uma sociedade acolhedora e de oportunidades para todos. O Brasil cordial, colorido e alegre pintado é bem mais violento, monocromático e doloroso do que aparenta ser.
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Força, Gisele. E coragem a todas as pessoas com deficiência para manterem a luta por dias melhores!
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