O Zé Gotinha está completando 35 anos de bons serviços prestados à saúde do Brasil, nas campanhas nacionais de vacinação. É fato que neste governo, que não dá muita bola para vacinação, o astro tornou-se figurante, com raras aparições em eventos políticos. Uma pena! Zé Gotinha, personagem criado em 1986 pelo artista plástico Darlan Rosa, era um símbolo que cumpria o seu papel de engajar as pessoas, sobretudo as crianças, às campanhas vacinais.
Sua estreia se deu numa campanha de imunização contra o vírus assustador da poliomielite. Desde então, Zé Gotinha é sucesso e sua presença nos locais de vacinação faz a alegria de crianças e adultos. Apesar do seu inegável "poder de atração" e da importância da vacinação para a saúde pública, os serviços do astro não têm sido muito requisitados. É de se estranhar!
Um símbolo como o Zé Gotinha não se constrói do dia para a noite. Leva tempo para cair nas graças do público, construir identificação e desenvolver confiança e credibilidade para atrair e engajar os públicos-alvo. Zé Gotinha cumpriu com méritos essa missão e, por essa razão, é um case importante de comunicação, um patrimônio valiosíssimo do Ministério da Saúde. Daí a dificuldade em entender o seu esquecimento ou, como dizem agora, o seu "cancelamento". É colocar de lado um trabalho criativo, inteligente e árduo que definitivamente deu certo.
A atual gestão do Ministério da Saúde, tudo indica, não vê relevância na comunicação. Do contrário, já estariam no ar, desde a chegada do coronavírus no Brasil, campanhas tratando da importância do uso de máscaras, da higienização das mãos, do distanciamento social e dos riscos impostos pela aglomeração; agora, com a chegada das vacinas, sobre a importância da imunização para o cidadão e para a coletividade. Nada, nada aconteceu até agora.
O que temos no momento é uma iniciativa privada, do consórcio de veículos de comunicação, que lançou a campanha Vacina Sim! Com o apoio de artistas, esportistas e líderes de distintos setores, a campanha busca convencer os renitentes, por razões diversas, sobre a importância da vacinação e segurança da vacina. Trata-se de uma campanha simples, clara e objetiva.
E o cidadão brasileiro, majoritariamente como revelam as pesquisas, entendeu que a vacinação é importante para ele, para os que estão ao seu redor e que o imunizante inglês, chinês, indiano ou americano, qualquer que seja a sua origem, não transforma ninguém em jacaré.
Infelizmente por aqui a imunização anda a passos lentos, apesar da reconhecida competência dos brasileiros em campanhas nacionais de vacinação. Faltam vacinas, porém sobram maus exemplos e fake news. Pessoas, algumas delas importantes no cenário nacional, seguem promovendo e participando de aglomerações e, não bastasse, muitos sem máscaras.
O Ministério da Saúde deveria assumir o seu papel de liderança e agir agora, de maneira forte e assertiva, com campanhas de comunicação esclarecedoras, que promovessem a prevenção e alertassem sobre os perigos da desinformação. Ainda dá tempo para esta ação, pois a segunda onda da Covid-19 é na verdade um tsunami, que já produz mortes e infecções em números bem superiores à anterior. O Zé Gotinha, com o seu prestígio junto aos brasileiros, certamente ainda tem muito a contribuir para a imunização de todos, crianças e adultos.
A autora é relações públicas, mestre em Comunicação e Cultura Midiática e professora da FAAP e da Unisantos
* Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta
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