O “rosa” faz referência ao famoso laço cor-de-rosa lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, responsável por organizar a 1ª Corrida pela Cura, em Nova York, no ano de 1990, sendo a maior organização mundial de câncer de mama encarregada de realizar pesquisas sobre o assunto.
É interessante pensar a ideia de laço como enodamento e ao mesmo tempo como ação de atar e desatar, simbolizando a união de mulheres por uma causa e ao mesmo tempo o desejo de ser um indivíduo único.
Essa individualidade é marcada por uma divisão existencial que pode ser atrelada a marca subjetiva da divisão da mulher com ela mesma, seu duplo.
Essa divisão existencial aparece de forma bem interessante na literatura de "Mulher no espelho" (1985) da escritora Helena Parente Cunha: “Ela é ela. Eu sou eu. Ela tem seus problemas. Eu tenho os meus. Se existo na imaginação dela, não foi ela que me criou. Fui eu mesma que me fiz. Depois a inventei”.
Na trama o ego não permite que “elas” adimitam que são uma única mulher na frente do espelho.
A ambivalência, o ódio, a rivalidade que muitas vezes impomos a nós mesmas, exigindo campos visuais imaginários supervalorizados pela sociedade: a imagem de um corpo “ideal”.
E já que estamos falando de imagem, a imagem de um seio “ideal”!
A diferença anatômica nomeada “seio ou mama”, assume uma função e significação associada ao feminino em nossa cultura. Quais os efeitos dessas significação?
O seio ou mama é a parte anatômica feminina que a diferencia do homem. No entanto, essa diferença só pode ser incorporada pelas significações da cultura.
Tal marca biológica denota implicações sociais sobre o significado do que é ser uma mulher e sobretudo conotações simbólicas sobre o nosso próprio corpo.
Culturalmente aprendemos que uma mulher só pode ser identificada pela presença desse seio.
Quais são os efeitos disso?
Em alguns casos é necessário à cirurgia de martopexia, procedimento cirúrgico onde é realizado a retirada do tumor comprometendo parte ou totalmente a mama.
Nesses casos cabe pensar a retirada do seio como ausência do feminino?
O que escutamos de algumas mulheres com câncer de mama e com prognóstico de retirada é o feminino atrelado a outros significados e não necessariamente ao seio.
O seio aparece como artefato secundário, atrelado ao campo visual do outro.
Toda mulher vê no espelho subjetivo uma imagem capaz de se construir, reconstruir, ressignificar, potencializar a si mesma, mesmo que um órgão lhe falte.
Reduzir a mulher ou a feminidade pelas características de um órgão, principalmente quando falamos de doenças como câncer de mama, é um regresso inclusive sobre a noção de doença.
Quando falamos de câncer de mama é preciso analisar outras perdas para além da perda anatômica.
Estamos chamando a atenção talvez para uma perspectiva pouco discutida, a de uma supervalorização da imagem do seio tendo como estigma do ponto de vista social a retirada da mama como maior perda.
Em linhas gerais, observamos que essa ideia está ligada a essa construção social e não necessariamente ligada ao discurso das mulheres com câncer de mama.
Quando existe sofrimento ligado a isso, percebemos que ele está muito mais atrelado ao olhar do outro, amigos, parentes, a sociedade no geral do que com o próprio sujeito.
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