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É oncologista e cofundadora do projeto Ellas Oncologia

Câncer ginecológico: prevenção também é forma de empoderamento feminino

Neste mês, os cânceres ginecológicos ganham ainda mais evidência em razão da campanha Setembro em Flor, iniciativa do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos

  • Aurenivea Cazzotto É oncologista e cofundadora do projeto Ellas Oncologia
Publicado em 09/09/2024 às 15h35

Mulheres, cuidar do corpo também é uma forma de empoderamento! Em pleno 2024, essa afirmação pode parecer um lugar-comum ou uma banalidade, mas, quando olhamos atentamente para as estatísticas, percebemos que essa frase ainda precisa ser dita inúmeras vezes.

E aqui está um exemplo: ao avaliar os motivos que levam as mulheres a nunca terem realizado o exame preventivo, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNE 2019) revelou as principais justificativas, entre as quais destaco as três primeiras: 45,1% das mulheres afirmam que não acham o exame necessário; 14,8% afirmam que nunca foram orientadas a fazer o exame; e 13,1% afirmam ter vergonha.

Todas essas razões precisam ser cada vez mais desconstruídas diante da relevância do papanicolau e da atenção cuidadosa das mulheres ao seu próprio corpo para o combate precoce a uma série de doenças. Neste mês, os cânceres ginecológicos ganham ainda mais evidência em razão da campanha Setembro em Flor, iniciativa do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos.

No Brasil, os principais, em ordem de incidência, são o câncer de colo uterino, o câncer de ovário, o câncer de útero/endométrio e o câncer de vulva. Todos os anos, cerca de 30 mil mulheres brasileiras são diagnosticadas com alguma dessas neoplasias e, desse total, mais da metade dos casos refere-se aos tumores de colo do útero (terceiro mais incidente entre as brasileiras), cuja principal causa, assim como do câncer de vulva, é o vírus do HPV, o papilomavírus humano.

Com a disponibilização gratuita da vacina anti-HPV pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos  de 9 a 14 anos, temos uma grande possibilidade de reduzir significativamente a incidência desses cânceres. No entanto, mais uma vez, a mudança das estatísticas esbarra na adesão abaixo do esperado. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2018 e 2024, 75,61% das meninas receberam a primeira dose, enquanto 58,19% retornaram para completar o esquema vacinal de duas doses. Entre os meninos, 52,86% receberam a primeira dose e 33,12% receberam a segunda.

Especialistas de todo o país que analisam a situação, atribuem esse fato à desinformação e à falta de conhecimento, que levam a crenças equivocadas, como a de que a utilização da vacina provoca o início precoce da vida sexual. São essas mesmas questões culturais que transformam o corpo feminino em tabu, impedindo que muitas mulheres olhem para si mesmas.

Um simples ato de autocuidado, mas fundamental para a descoberta dos sintomas dos cânceres ginecológicos, inclui sangramentos fora do período menstrual, dor pélvica e abdominal, corrimento vaginal anormal e urgência para urinar, além de nódulos e feridas. Quanto mais os sinais são ignorados, mais agressiva será a doença no futuro, exigindo tratamentos mais complexos.

mulher com dor
Mulher com dor. Crédito: Shutterstock

Por falar em tratamentos, os avanços tecnológicos têm proporcionado o surgimento de novas terapias, a exemplo dos imunobiológicos, resultando em ganho de sobrevida das pacientes. Um desafio que temos para o futuro é tornar essas terapias acessíveis no sistema público, onde está a maioria das pacientes. Melhorias também chegaram aos tumores que apresentam predisposição genética, já sendo possível oferecer cirurgias preventivas e medicações específicas para reduzir o risco da doença.

Da mesma forma como a ciência avança, as políticas de atenção à saúde e a cultura na qual estamos inseridas precisam seguir na mesma direção, a fim de que, no futuro, o câncer ginecológico cause menos impactos do que na atualidade. Para isso, informação, conhecimento e acolhimento são necessários.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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