É evidente que as condições sanitárias requerem cuidados e preocupações, uma vez que o aumento de casos de Covid-19 tem aumentado vertiginosamente, batendo recordes diários - foram registrados logo após a primeira quinzena de janeiro mais de 12 mil casos no Espírito Santo em 24 horas - chegando a números maiores do que em qualquer período anterior do caos sanitário.
Isso acarreta superlotação das unidades de saúde públicas e privadas, constante exaustão dos trabalhadores da saúde e dificuldade da realização de testagem em massa por instabilidades nos sites designados para o agendamento e falta de vagas. Quem consegue agendar enfrenta filas por horas para conseguir ser testado.
Esses motivos são válidos para o adiamento do carnaval no Sambão do Povo? Sim. Mais do que válidos. São fundamentais para a decisão de não fazer carnaval numa escalada de contaminação.
Mas a pergunta geradora desse texto é: essa preocupação sanitária é real? Na minha visão, não. E por qual motivo?
Enquanto o Carnaval no Sambão do Povo foi adiado para abril, em Guarapari mantêm-se shows de grande porte com nomes conhecidos e em casas que funcionam mediante liminar judicial porque anteriormente foi apontado que não se adequavam a normas de segurança com problemas de superlotação e dificuldade de área de escoamento das pessoas em casos de emergência.
Além disso, o Estádio Kleber Andrade receberá jogos do Campeonato Carioca, como o presidente do Fluminense afirmou em entrevista que mandará a partida contra a Portuguesa ser realizada no estádio de Cariacica. E o local também está sendo cotado para sediar nada mais, nada menos do que um Fla-Flu no dia 6 de fevereiro. Oras, qual o sentido de serem mantidos esses eventos e cancelarem o carnaval no Sambão do Povo? É realmente uma preocupação sanitária ou é uma decisão que confirma que “fazem de tudo para silenciar a batucada dos nossos tantãs”?
Ao que tudo indica, desde quando a pandemia começou, a culpa é do carnaval. Em 2020 foi por culpa dele que a doença se espalhou e em 2022, apenas ele deverá ser sacrificado em prol de uma coletividade. Entretanto, essa decisão não passa de uma forma dos governantes dizerem cinicamente “tentamos controlar a pandemia” e colocarem a cabeça tranquila no travesseiro, enquanto acontecem grandiosos shows, jogos de futebol com público, eventos corporativos, grandes festas em bares e demais situações contraditórias.
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Enquanto isso, em um Estado com pouco mais de 4 milhões de habitantes e 214 mil pessoas desempregadas, com o salário médio perdendo ⅓ do poder de compra e todos os serviços funcionam normalmente, como ficarão as pessoas que trabalham com o carnaval, o popular de rua ou o que ocorre na avenida? Haverá auxílio financeiro para essas pessoas ou elas terão que se virar para manterem o mínimo de dignidade e sobrevivência? São perguntas que devem ser respondidas pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo (ALES), pela Prefeitura de Vitória, pela Câmara de Vereadores de Vitória, pelo governo do Estado do Espírito Santo e pelos responsáveis pelo carnaval.
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