Constatamos certa euforia no mercado com a novidade do carro elétrico em terras brasileiras. Precisamos examinar com prudência essa opção, antes de tecermos loas sobre a eletromobilidade como solução para o transporte individual no Brasil.
Um grande equívoco que se perpetua nas avaliações de cada modal tem sido as comparações de custos, onde não se avaliam corretamente os custos sociais e ambientais envolvidos em cada caso. Acertar uma avaliação econômico-financeira é acrescentar os custos e benefícios indiretos de cada atividade realizada, isto é, internalizar as externalidades no âmbito do negócio.
A esta nova análise mais abrangente, que reconhece a necessidade de minuciar os impactos sociais e ambientais impostos à sociedade, chamamos de avaliação socioambiental. Esse foco será a diretriz das nossas reflexões.
A eletromobilidade refere-se ao uso de veículos elétricos (VEs) que utilizam eletricidade como fonte primária de energia, em vez de combustíveis fósseis. Trata-se, supostamente, de uma alternativa sustentável aos motores tradicionais, impulsionada pela necessidade de soluções energéticas mais limpas. Os VEs estão desembarcando no Brasil em proporções que demonstram alguma voracidade em ocupar um espaço significativo no mercado de automóveis.
A indústria mundial dos carros elétricos surgiu e sobrevive única e exclusivamente na base de altos subsídios públicos, sem dinheiro do governo ela não se sustenta. Para se ter uma ideia, entre 2016 e 2022 o governo chinês gastou mais de US$ 57 bilhões para estimular o surgimento de uma indústria local de carros elétricos. Hoje, a China concentra 60% de toda a frota elétrica do planeta. Foi uma opção clara pelo elétrico.
Milhares de carros abandonados. Baterias de lítio — com seus componentes altamente tóxicos — em fase de decomposição. Esse cenário é visto atualmente em um cemitério de automóveis na cidade de Hangzhou, perto de Xangai, na China. Os cemitérios de carros elétricos começaram a aparecer em fotos e vídeos na internet.
Aquilo que deveria ser a “referência” do transporte limpo se transformou em fantástico desperdício e grande potencial ofensivo para uma tragédia ambiental. Os motivos de abandono desses carros com pouco tempo de uso se deve à falência dos fabricantes, obsolescência muito rápida, falta de peças, baixa autonomia, entre outras.
O mercado brasileiro é muito menor que o chinês. Apesar do otimismo por aqui, existe uma série de questões que podem ameaçar as expectativas favoráveis aos carros elétricos. São muito mais caros do que os tradicionais e os custos adicionais (IPVA, seguros, etc.) são maiores. No Brasil, se colocar os custos e benefícios na ponta do lápis é evidente que a conta não fecha. Não vale a pena o investimento, os carros serão para poucos privilegiados na sociedade.
Outro aspecto importante é saber quem pagará a infraestrutura. Serão milhares de pontos de carregamentos espalhados pelas cidades e rodovias. Além, é claro, do consumo de energia. Quem pagará a conta? Há também grande possibilidade de escassez de lítio, além de cobalto, níquel e outros metais.
Um recente estudo feito pela Stellantis, dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, mostrou que carros movidos a etanol no Brasil poluem menos que os modelos elétricos. Ela chegou a declarar que não precisamos de carro elétrico.
O etanol, pelo que se apresenta, parece ser a solução verde do Brasil. A matriz energética é vegetal e, portanto, renovável, ao contrário dos veículos elétricos. O Brasil é líder mundial em tecnologia para processamento, aplicação e utilização do etanol.
Por fim, um alerta. Nem sempre as certezas patrocinadas e tampouco os “negócios da China” são compatíveis com nosso contexto socioeconômico. Conhecemos vários exemplos a respeito.
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