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É advogado, pós-doutor em Direito Penal (Goethe Universität) e em Criminologia (Universität Hamburg). Professor da FDV

Caso Leonardo e o compliance na prevenção ao trabalho escravo

Investir em práticas preventivas, como a contratação de auditores externos e o acompanhamento das condições de trabalho, é essencial para assegurar que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados

  • Raphael Boldt É advogado, pós-doutor em Direito Penal (Goethe Universität) e em Criminologia (Universität Hamburg). Professor da FDV
Publicado em 12/10/2024 às 11h00

Recentemente, o nome do cantor sertanejo Leonardo foi envolvido em uma polêmica após denúncias de trabalho em condições análogas à escravidão em uma fazenda de sua propriedade. De acordo com as investigações, trabalhadores da fazenda estariam sendo submetidos a jornadas exaustivas, condições degradantes e cerceamento de liberdade, o que configura o crime previsto no art. 149 do Código Penal brasileiro: redução de pessoas à condição análoga à de escravo.

Esse tipo de prática, infelizmente, ainda é uma realidade em várias regiões do país, e casos envolvendo figuras públicas acendem o debate sobre a importância da responsabilidade empresarial na prevenção desse crime.

O artigo 149 do Código Penal criminaliza a exploração de trabalhadores em condições desumanas, sendo uma das infrações mais graves contra a dignidade da pessoa humana. A pena para quem pratica esse crime pode variar de dois a oito anos de reclusão, além de multa. As autoridades têm intensificado as fiscalizações em áreas rurais e urbanas para combater tais práticas, o que reforça a necessidade de empresas e proprietários adotarem medidas preventivas para evitar a ocorrência desse tipo de delito.

Nesse contexto, o compliance surge como uma ferramenta crucial para prevenir o crime de trabalho análogo à escravidão. No ambiente corporativo, o compliance refere-se ao conjunto de regras e práticas internas destinadas a garantir que uma empresa ou entidade cumpra a legislação e normas aplicáveis ao seu setor.

Ele vai além de apenas cumprir a lei, envolve a criação de uma cultura organizacional que valoriza a ética, a transparência e a responsabilidade social.

No setor agropecuário, onde as denúncias de trabalho escravo são frequentes, a implementação de programas de integridade pode prevenir esse tipo de situação, garantindo que todas as operações sigam os padrões legais e respeitem os direitos humanos dos trabalhadores.

Empresas que adotam boas práticas de governança corporativa, incluindo treinamentos regulares sobre direitos trabalhistas, condições seguras de trabalho e mecanismos de denúncia anônima, conseguem mitigar os riscos de envolvimento em escândalos dessa natureza.

Cantor Leonardo
Cantor Leonardo. Crédito: Reprodução/Instagram

No caso da fazenda do cantor Leonardo, a implementação de um programa eficaz de compliance poderia ter evitado a exposição negativa e as consequências jurídicas graves. Investir em práticas preventivas, como a contratação de auditores externos e o acompanhamento das condições de trabalho, é essencial para assegurar que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e, ao mesmo tempo, proteger a reputação dos proprietários e gestores.

O referido caso serve como um alerta para a importância de programas de integridade no setor agropecuário e em todas as áreas que envolvem a contratação de trabalhadores. O respeito à legislação trabalhista e aos direitos humanos não é apenas uma obrigação legal, mas uma responsabilidade ética que deve ser assumida por todos os empregadores. Adotar medidas de prevenção é a melhor forma de evitar a prática de crimes e assegurar um ambiente de trabalho digno e seguro para todos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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