No livro "Desenvolvimento com Liberdade", o economista indiano Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia de 1998, discute o nível de desenvolvimento de uma sociedade a partir do aumento dos graus de liberdade dos indivíduos. Com essa ideia, ele questiona a noção de desenvolvimento que se baseia exclusivamente no crescimento econômico.
O caminho para a melhoria das condições de vida está, sem dúvida, associado à renda, mas depende da ampliação simultânea de diferentes graus de liberdade, que incluem o acesso a serviços básicos como saúde, educação e segurança, além de relacionamentos sociais, reconhecimento de direitos, cidadania, mobilidade, acesso a bens culturais e serviços. A soma desses maiores graus de liberdade amplia as oportunidades de cada indivíduo.
Essa visão significou uma revolução na concepção dos programas sociais e de inclusão, que passaram a integrar, simultaneamente, diversas dimensões para lidar com o combate à pobreza e a superação de vulnerabilidades. No Espírito Santo, temos um caso emblemático dessa concepção: os Centros de Referência da Juventude (CRJs).
Os CRJs do governo do Espírito Santo fazem parte do Programa Estado Presente e têm como objetivo enfrentar os problemas relacionados à juventude nas áreas abrangidas pelo programa. Conforme descrito em sua referência metodológica, “têm como intuito não apenas a prevenção da violência, mas também a promoção da vida digna, da qualidade de vida e da ampliação de oportunidades entre a população jovem moradora das regiões mais afetadas pela violência no Estado. Assim, as ações propostas para os CRJs se baseiam no fortalecimento da diversidade e no atendimento equitativo”.
Atualmente são 14 CRJs em operação em dez municípios, financiados por uma parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Nos CRJs funcionam os Laboratórios de Potencialidades Capixabas - LAB Poca, um espaço voltado para a economia criativa e o desenvolvimento das comunidades.
As instalações físicas dos CRJs, suas funcionalidades e ofertas, são definidas a partir da realidade local e em discussão com a população de cada área. São ambientes abertos, coletivos e acolhedores que valorizam e aumentam a autoestima das comunidades, especialmente dos jovens que ali se instalam.
Nos CRJs, os jovens encontram uma equipe formada por psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, educadores, articuladores locais, oficineiros e outros profissionais que compreendem a importância de viver a juventude com autonomia, escrevendo sua própria história. Os centros são administrados por Organizações da Sociedade Civil, escolhidas por meio de edital, que operam com uma metodologia aprovada pelo BID.
Resumidamente, há dois núcleos de atuação: 1) Sócio afirmativo e de acesso; 2) Economia criativa, trabalho e renda. Cada núcleo possui eixos específicos de atuação. O primeiro inclui os eixos Cola Aê e Fortalece a Família. O Cola Aê é o eixo de entrada, que compreende desde a inscrição em um curso ou oficina até o uso de computadores e equipamentos audiovisuais. O Fortalece a Família possibilita, caso o jovem deseje, traçar um Planejamento de Vida (Pvida) com o apoio de profissionais. O segundo núcleo é formado por três eixos: O Tô no Topo, que busca entender necessidades individuais ou de um grupo e construir um plano de possibilidade de trabalho; o Trampo Coletivo, um espaço de coworking com equipamentos e salas de reunião; e os LAB Poca.

Em 2024, foram 10.386 jovens no CRJs, totalizando mais de 140 mil atendimentos em diferentes modalidades. Na verdade ocorre uma espécie de atendimento contínuo, que se desdobra na construção de laços de amizade, troca de experiências, compartilhamento de expectativas e desenvolvimento de uma cultura de cooperação, fortalecendo as comunidades. Jovens se empoderam e se afirmam como cidadãos.
Recentemente, 23 jovens atendidos nos CRJs foram aprovados em cursos superiores de diversas instituições do Estado. São histórias e iniciativas como essa que nos oferecem um retorno verdadeiro pelo trabalho em prol do desenvolvimento do nosso Estado. Mais do que políticas, estamos falando de vidas.
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