Novas tecnologias costumam causar abalos sísmicos de diferentes magnitudes quando surgem em nossas vidas. Nesses primeiros meses de 2023, pesquisas no Google pelo termo "ChatGPT", a agora tão comentada ferramenta de inteligência artificial, atingiu o índice máximo de interesse medido pela plataforma Statista, disparando de 17 (em uma escala de 0 a 100) em novembro de 2022, para 100 no início de fevereiro de 2023.
Quando a humanidade se depara com uma nova tecnologia, é comum lidarmos com sentimentos de receio e empolgação em relação à novidade. Especificamente considerando o Chat GPT no contexto da educação, seria essa nova tecnologia uma ameaça ou oportunidade?
No livro "The App Generation" ("A Geração App", em tradução livre), o psicólogo cognitivo autor da teoria das múltiplas inteligências Howard Gardner afirma que “um lápis pode ser usado como uma ferramenta para escrever poemas ou como uma arma”. Em se tratando de novas tecnologias na educação, cabe aos educadores a reflexão sobre a função da escola antes de decidir qual ferramenta usar e de que forma usá-la.
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Ao operar ferramentas como o ChatGPT de forma indiscriminada, um aluno pode incorrer em plágio ou recorrer a fontes não confiáveis, e consequentemente, não aprender, não se capacitar e não se desenvolver de forma adequada. Diante de um risco real e iminente, muitas instituições já pensam em banir a tecnologia tal como já fizeram com celulares ou computadores. Sendo a escola um lugar onde se educa, capacita e desenvolve competências, simplesmente banir uma ferramenta significa deixar de ocupar um espaço que é da educação.
E se a escola olhar para a inteligência artificial como uma oportunidade? O Chat GPT tem sido usado por criadores de aplicativos para melhorar a experiência dos seus usuários. A Adidas usou-o recentemente para prever uma tendência na moda esportiva. Há escolas, como é nosso caso na Escola Americana de Vitória, que já estão usando o Chat GPT nas suas aulas de codificação para que os alunos possam corrigir os códigos criados por eles ou para identificar uso indiscriminado de IA, funcionando, assim, como um professor assistente.
Outras iniciativas nas áreas da arte e escrita, por exemplo, têm se valido da IA para enriquecer o processo criativo. Todas essas oportunidades encontram um terreno fértil para serem exploradas desde que haja um modelo de ensino colaborativo, curioso e que fomente a cultura da inovação. A escola tradicional esteve (e a maioria das instituições, infelizmente ainda está) focada na reprodução do conhecimento, onde o aluno era sempre avaliado pelas respostas que dava.
A nossa evolução enquanto humanidade sempre dependeu das perguntas com pensamento crítico que somente o ser humano é capaz de fazer. Qual é o incentivo da escola para o pensamento divergente? Como a escola tem se capacitado para explorar as novas tecnologias e como tem desenvolvido as competências dos seus alunos para navegar no mundo contemporâneo?
A máquina é uma criação do ser humano, operada por ele, a serviço dele e em constante estado de aprimoramento. Preferimos voar em um jato altamente computadorizado fabricado em 2023 ou em um avião da década de 50, com alta demanda operacional para os pilotos? Ainda temos pilotos nas cabines de comando, mas suas funções mudaram drasticamente e a segurança e experiência de voo também. Esses profissionais tiveram que, ao longo dos anos, se educar, capacitar e desenvolver novas competências.
Não é muito diferente com as escolas, onde alunos e professores precisam ser educados a usar as novas tecnologias de forma ética e construtiva. Ameaças e oportunidades estarão lado a lado e cabe aos educadores conciliar essas variáveis.
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