Dia 22 de abril é o mito do descobrimento do Brasil que, analisado sob o conceito de cultura de dominação, envolve o etnocentrismo, que segundo Giddens é o julgamento de outras culturas.
Como se sabe, Pedro Alvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de abril. Ainda nos primeiros dias, foi celebrada uma missa e, logo após, os nativos festejaram. Assim, há dois marcadores culturais: a missa do povo branco e a festa do povo nativo.
Segundo o historiador indígena Ailton Krenak, os portugueses foram vistos pelos índios como mais um povo. Enquanto, para o historiador Puntine, os portugueses estabeleceram uma relação de mercancia, questionando a existência da alma nos nativos.
O antropólogo Darcy Ribeiro afirmou que os europeus chegaram doentes e famintos às praias brasileiras, falas que Ailton interpreta como uma oportunidade, se assim desejassem, de aniquilar facilmente aqueles europeus. Mas o povo nativo cuidou deles e os alimentou, logo há um mito da conquista do território. Essa recepção pacífica foi registrada por Caminha.
Na segunda missa, foi erguida uma grande cruz de madeira para simbolizar a cerimônia de posse oficial daquelas terras. Logo, esses signos culturais resultam em definir: civilização, selvageria e propriedade.
Levi Strauss, quando analisou as diferenças de comportamento do povo americano nativo e dos europeus, sustentou que os nativos praticavam a alteridade. Enquanto os europeus estabeleciam relações de domínio. Tanto que Caminha registra que o povo andava desnudo pelas terras, sem qualquer vergonha, pois no ponto de vista dos portugueses o correto era estar vestido.
Assim, a chegada dos portugueses foi o primeiro marco do processo contínuo de dominação e de subjugação de culturas, que hierarquizou a cultura branca como a mais importante, fazendo com que os índios fossem considerados imprestáveis para o trabalho e inimigos do desenvolvimento econômico da época. Entretanto, trabalho e produção para acúmulo não eram uma vivência dos nativos, resultando na interpretação da imprestabilidade do índio para a civilização.
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Portanto, estudar o Brasil a partir de seu descobrimento é resultado dessa herança que nega o conjunto histórico existente antes da chegada. Chamar essa chegada de invasão é problematizar esse processo, impedindo sua naturalização e aceitação acrítica.
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