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É doutor em Oceanografia pela Ufes e University of Western Australia, membro do Fórum Popular em Defesa do Meio Ambiente e da Cidadania

Ciclovia no Parque de Jacarenema e a destruição ambiental

Assim como a restinga, os capixabas podem e devem lutar para prosperar como uma sociedade que respeita o meio ambiente

  • Nery Neto É doutor em Oceanografia pela Ufes e University of Western Australia, membro do Fórum Popular em Defesa do Meio Ambiente e da Cidadania
Publicado em 10/02/2025 às 15h30

inauguração da ciclovia do Parque Natural Municipal de Jacarenema (PNMJ), em Vila Velha, em 18 de janeiro, foi apresentada como uma ação de preservação ambiental e conexão da comunidade com o espaço, inclusive sendo comemorada por parte da população capixaba.

Porém, a iniciativa tem sido questionada por ambientalistas pelos impactos ecológicos sobre a restinga, uma Área de Proteção Permanente (APP) como previsto no Código Florestal Brasileiro. Restinga é o nome dado aos depósitos arenosos recentes (praias, dunas, depressões costeiras) que recebem um mosaico de vegetação de ervas, arbustos e árvores, sendo um bioma costeiro associado à Mata Atlântica. É um bioma de extrema importância para a estabilização de dunas e manguezais, contenção de erosão, além de ser local de desova de tartarugas, aves, répteis e anfíbios.

No Espírito Santo, somam-se à restinga do PNMJ a Área de Proteção Ambiental Guanandy (Presidente Kennedy), o Parque Estadual de Itaúnas e Paulo César Vinha (Setiba), para citar alguns exemplos. Porém, a destruição de 65 mil hectares de restinga de Presidente Kennedy para dar lugar ao Porto Central, a privatização dos Parques Estaduais e a especulação imobiliária são ameaças ao equilíbrio ambiental.

Imagens de drone da orla da Barra do Jucu e Ponte da Madalena em Vila Velha
Imagens de drone da orla da Barra do Jucu e Ponte da Madalena em Vila Velha. Crédito: Fernando Madeira

Em Jacarenema, ferindo o Plano de Manejo do PNMJ, do Código Florestal Brasileiro e do bom senso, foi ordenada a derrubada de mata nativa para cimentar o solo dentro de um Parque Natural, que exige proteção integral. O questionamento não é sobre a importância de transporte alternativo para melhorar a conexão entre a Barra do Jucu com o restante da cidade. A discussão está em torno da destruição de ecossistemas fundamentais para o equilíbrio ambiental: manguezal, restinga e mata atlântica. A reação da comunidade local foi de resignação, por estar cansada de não ter apoio na causa ambiental.

No entanto, assim como a restinga, os capixabas podem e devem lutar para prosperar como uma sociedade que respeita o meio ambiente. Por mais que a destruição já tenha sido realizada em Jacarenema, o retrocesso ambiental está sempre à espreita. A presença do loteamento Costa Nova nas imediações do parque somada à notícia de revisão do plano de manejo que parece indicar que a intenção é transformar o Parque Natural em um Parque Urbano.

Para evitar isso, é preciso a presença de guarita em ambos os lados do parque para limitar o número de pessoas, informar os frequentadores sobre a proibição de ruído de caixas de som e fogos de artifício, de saída da estrada demarcada, e de retirar qualquer elemento da fauna e flora.

A Prefeitura de Vila Velha deve realizar atividades de educação ambiental, espalhar lixeiras por todo o caminho da ciclovia, e sinalizar claramente que está se adentrando uma área de preservação. Acima de tudo, a administração municipal deve se comprometer a não expandir nenhuma atividade de construção civil. Já o Ministério Público deve investigar sob quais condições esse projeto foi realizado.

Para que as gerações futuras tenham acesso a um meio ambiente saudável, a luta deve ser permanente. Para isso, precisamos aprender a lutar e resistir como a vegetação da restinga.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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