Tempos difíceis. Não bastasse a astúcia do vírus, ainda longe de ser compreendido pela ciência, os ciclos do atraso que caracterizam nossa história revelam-se escancaradamente: país afora faltam leitos, falta planejamento, falta infraestrutura, falta tudo!
Neste cenário de escassez absoluta, não falta sofrimento, não faltam lágrimas, não faltam histórias tristes e vidas abruptamente interrompidas. Sobeja populismo minuciosamente arquitetado e potencializado no uso das redes sociais como instrumentos de proliferação de ódio e de boicote àqueles agentes públicos que, à mingua de uma (necessária) política de coordenação central, envidam esforços para garantir dignidade aos cidadãos de seus Estados e de suas cidades.
Entre escassez de soluções e excesso de problemas, somos um Brasil abandonado à própria sorte pela maior autoridade do país. Abandono que preocupa o mundo. O Brasil, antes exemplo mundial de um programa de vacinação robusto e eficiente, passa a ser visto como o local onde a ausência da vacina pode fazer desenvolver cepas cujas consequências ainda não se pode sequer dimensionar.
E o que pode estar por trás de tantas escolhas e atitudes equivocadas que nos fizeram chegar até aqui?
É comum que o valor de uma atitude ou ação seja mensurado pelas consequências que ela produz. É comum e corriqueiro, mas será que é certo?
Minimizar a gravidade da pandemia, não tomar medidas impopulares a fim de garantir uma falsa sensação de normalidade que propicie a perpetuação do poder nas urnas pode ser um exemplo drástico desse tipo de filosofia política. Infelizmente é disso que estamos vivendo.
Mas a filosofia pode ser (e é) muito melhor que isso! Basta fazer a escolha certa!
Immanuel Kant, filósofo do século XVIII cujas ideias até hoje inspiram e fundamentam a defesa da universalidade dos direitos humanos, dizia que o que atribui valor moral a uma ação é o princípio, o motivo que leva a sua prática. As consequências da ação, positivas ou negativas, dependem de circunstâncias que, muitas vezes, fogem ao controle de quem age.
Em outras palavras, diria o filósofo prussiano, a razão e a autonomia (liberdade) de que somos dotados deve nos levar a fazer o certo simplesmente porque é o certo a se fazer. E se há um imperativo que deve nortear nossa conduta, este se traduz em considerar cada ser humano como um fim em si mesmo, que jamais pode ser usado como meio para a consecução de qualquer outro objetivo.
A consideração desse imperativo categórico certamente levaria a medidas antipáticas, restritivas de liberdades, lastreadas no princípio supremo de salvar cada vida com a singularidade que a distingue de qualquer outra existência.
Não é simples, mas um pouco de boa filosofia talvez nos conduzisse a tempos menos sombrios.
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