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Com real desvalorizado e ruído político, fantasma da inflação assombra

Se não quisermos tomar o remédio amargo dos juros altos, precisamos traçar o caminho da estabilidade econômica, sem burburinhos que geram ansiedade nas pessoas e no mercado

  • Felipe Storch Damasceno
Publicado em 21/03/2021 às 10h01
Data: 13/06/2008 - Charge: Arroz - Editoria: Cidade - Autor: Arabson - GZ
Inflação alta tem tirado o poder de compra da população. Crédito: Arabson

Inicialmente, precisamos lembrar os fatores geradores de inflação no Brasil. Primeiro, temos uma alta indexação econômica. É aquele comportamento de “reajuste de preços pela inflação”. Isso é comum para utilidades públicas, aluguéis, salário-mínimo etc. A indexação garante que a inflação alta gere mais inflação.

Segundo, temos que pensar no dólar. Existem vários produtos na economia com preços influenciados diretamente pela taxa de câmbio. Por um lado, temos os que fazem parte da balança comercial. Aqueles que são exportados, com a valorização do dólar, ficam mais rentáveis fora do país. As empresas recebem mais exportando e sobram menos produtos aqui dentro, então os preços aumentam. Esse grupo engloba o arroz, a soja, o milho, as carnes... Já os que são importados, têm o preço cotado em dólar e um aumento da taxa de câmbio, aumenta os preços automaticamente. É o caso do petróleo, adubos, máquinas e equipamentos...

Por outro lado, temos os produtos e serviços que estão de alguma forma relacionados com o preço do dólar. Laticínios dependem da ração animal, que é feita à base de soja e milho. Frete depende dos combustíveis que dependem do preço do petróleo, e por aí vai. Enquanto o dólar está ficando mais barato em grande parte do mundo, nós tivemos uma disparada do preço.

Como está nossa situação hoje? 2020 foi um ano pandêmico e existem particularidades que devemos considerar. Foi um ano de retração do consumo, acentuado pelo resultado do começo da pandemia refletido no segundo trimestre. A partir do terceiro trimestre, o consumo começa a se recuperar com o auxílio emergencial e reabertura gradual da economia.

Mas aqui temos um outro fator muito relevante: a retração da oferta em diversos setores. A indústria parou e precisou voltar com capacidade reduzida exigida pelos protocolos sanitários. Quando a demanda volta, encontra uma indústria retraída e faltam insumos, como embalagens. A inflação dos insumos é transbordada para os produtos finais. Além disso, temos o preço das commodities em alta, pela demanda internacional. Temos o dólar em alta dada a insegurança econômica brasileira por um cenário de pandemia fora de controle, negacionismo e muito ruído político. Como discutimos acima, são fatores que aumentam os preços e geram inflação.

Em uma economia indexada, oferta retraída, real desvalorizado e muita instabilidade política, o risco de perdermos o controle inflacionário é alto. Temos duas tarefas urgentes a fazer: Vacinar a população e aprovar as reformas. O planalto segue dando sinais conflitantes. Parece que agora entendeu a importância da vacina, mas o presidente ainda dá pouca importância à pandemia. Parece que a pauta econômica ganhou destaque, porém o presidente interferiu na Petrobrás e o ritmo das reformas segue aquém do esperado.

Se não quisermos tomar o remédio amargo dos juros altos, precisamos traçar o caminho da estabilidade econômica, sem burburinhos e contradições que geram ansiedade nas pessoas e no mercado.

O autor é economista e professor da Fucape Business School

* Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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