O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, anunciada nesta manhã de quarta-feira (6), levanta questões importantes sobre os caminhos que a economia global pode tomar e como isso afetará países emergentes como o Brasil. Dada a posição dos Estados Unidos como segundo maior parceiro comercial do Brasil, é inevitável que mudanças na política econômica americana repercutam aqui.
A relação bilateral, que movimenta cerca de US$ 90 bilhões por ano, é alicerçada em uma ampla gama de produtos exportados, de commodities como petróleo e aço a manufaturados de alto valor agregado, como aeronaves. No entanto, os canais pelos quais essas mudanças podem se manifestar estão repletos de incertezas.
Trump contará com um Congresso de maioria republicana, o que lhe dará maior margem para implementar uma agenda econômica marcada pela redução de impostos e políticas protecionistas. A continuidade da política de corte de impostos, embora popular entre setores empresariais, deve ampliar o déficit fiscal dos EUA, colocando pressão sobre as taxas de juros de longo prazo.
Em um cenário de maior atratividade do mercado americano, o fluxo de capitais tende a migrar de economias emergentes para os Estados Unidos. No Brasil, esse movimento enfraqueceria o real, encarecendo as importações e pressionando a inflação. Diante disso, o Banco Central poderia ser forçado a aumentar a taxa Selic, comprometendo o ritmo da atividade econômica.
A história recente oferece pistas sobre os possíveis impactos. Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados, sob o argumento de proteger a indústria doméstica. O Espírito Santo, que depende significativamente das exportações de aço, sentiu os efeitos dessa medida.
Empresas como a ArcelorMittal Tubarão viram sua competitividade no mercado americano diminuir, resultando em queda de volumes exportados e margens reduzidas. Uma retomada dessas tarifas seria um revés considerável para o setor siderúrgico capixaba, que ainda se recupera dos choques anteriores.
Embora o setor petrolífero não tenha enfrentado tarifas diretas, a política de incentivo à produção doméstica de petróleo e gás nos EUA contribuiu para a queda dos preços globais. O Espírito Santo, como um dos maiores produtores brasileiros, depende fortemente das receitas geradas pela exploração na Bacia do Espírito Santo. A continuidade dessas políticas pode pressionar ainda mais os preços, reduzindo a arrecadação estadual e gerando desafios para o financiamento de serviços públicos.
Apesar desses riscos, é crucial reconhecer a presença de freios institucionais no sistema político americano. O Congresso e o Judiciário podem moderar ou bloquear propostas mais radicais, limitando a volatilidade internacional. Além disso, eventos exógenos, como choques globais ou crises sanitárias, podem alterar as prioridades da nova administração.
No campo diplomático, embora a relação entre Trump e Lula tenda a ser marcada por tensões ideológicas, a tradição brasileira de pragmatismo e equilíbrio diplomático oferece alguma resiliência. O Brasil historicamente evita alinhamentos automáticos, preferindo diversificar suas parcerias. Nesse contexto, é provável que o governo brasileiro busque estreitar laços com a China, não apenas para compensar eventuais barreiras comerciais americanas, mas também para diversificar mercados estratégicos.
Diante de um ambiente econômico global incerto, estratégias de longo prazo serão fundamentais. Empresas e governos precisam considerar a diversificação de mercados e fontes de financiamento, incluindo uma menor dependência de crédito em moeda estrangeira. Fortalecer o mercado doméstico, com políticas fiscais robustas e confiáveis, pode ajudar a atrair investimentos, mesmo em meio à volatilidade.
Para estados como o Espírito Santo, particularmente expostos a flutuações externas, o fortalecimento de cadeias produtivas internas e a busca por novos mercados são medidas urgentes. Mais do que nunca, a construção de bases sólidas permitirá que o Brasil e seus estados não apenas resistam aos ventos contrários da economia global, mas também se posicionem de forma competitiva e resiliente no cenário internacional.
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