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É arquiteta e urbanista, professora da Ufes e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Espírito Santo (IAB-ES)

Como as cidades podem ser mais gentis com os idosos?

O Programa Cidade Amiga das Pessoas Idosas foi instituído em 2019 para incentivar os municípios a implementarem medidas que promovam o envelhecimento saudável

  • Luciene Pessotti É arquiteta e urbanista, professora da Ufes e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento do Espírito Santo (IAB-ES)
Publicado em 02/10/2024 às 15h57

O envelhecimento é um processo natural da vida. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define população idosa, nos países em desenvolvimento como o Brasil, o grupo etário com mais de 65 anos. Há um envelhecimento acelerado e progressivo no Brasil que merece atenção. A OMS prevê que até 2050 o número de indivíduos com 60 anos ou mais será duplicado no mundo. No Brasil estima-se que um em cada três cidadãos será considerado idoso nos tornando a sexta população mais envelhecida do planeta.

Em números precisos, o Brasil tem 32.113.490 pessoas com 60 anos ou mais, o que representa 10,9% da população total, de acordo com o Censo Demográfico de 2022. Um recorde. Há aumento de 56% em relação ao Censo de 2010. O Espírito Santo tem 631.398 idosos. Registrou-se um aumento de 73,1% em relação a 2010, seguindo a tendência mundial de envelhecimento da população, com 11,2% da população geral com mais de 65 anos.

O crescente número de idosos no mundo caracteriza-se como o fenômeno grisalho e requer atenção no que tange aos cuidados com a saúde e previdência, habitação, mobilidade urbana e cultura, além da forma como os idosos são vistos pela sociedade. Esse olhar é denominado Idadismo (OMS) e se traduz como a discriminação de indivíduos com base em estereótipos relacionados à idade.

Essa discriminação, no âmbito das cidades, exige atenção. Objetivando incentivar as cidades e comunidades a se adaptarem às necessidades da população que envelhece, criou-se a Rede Global da OMS de Cidades e Comunidades Amigas das Pessoas Idosas. Com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a região das Américas tornou-se a que mais cresce na rede.

O Programa Cidade Amiga das Pessoas Idosas foi instituído em 2019 para incentivar os municípios a implementarem medidas que promovam o envelhecimento saudável. A cidade deve ser um lugar que adapta suas estruturas e serviços para que seus espaços sejam mais inclusivos e receptivos às necessidades dos idosos.

Tal programa visa buscar soluções para um dado expressivo. Segundo a OPAS, 61,25% das pessoas com mais de 60 anos vivem em áreas urbanas e os 38,75% restantes em áreas rurais. Logo, se faz urgente repensar as cidades e os espaços de rotina para proporcionar às pessoas idosas mais oportunidades de participar da vida, envelhecer de forma saudável e viver sem medo de discriminação ou pobreza.

O envelhecimento deve ser acompanhado de oportunidades para que os idosos possam contribuir com sua comunidade, expressando sua individualidade. Para tanto, são necessárias políticas que proporcionem a essa população dignidade, fortalecendo sua autonomia, oferecendo serviços, ambientes e estruturas diferenciadas.

Idosos usam aplicativos para monitorar saúde e viver melhor
Idosos usam aplicativos para monitorar saúde e viver melhor. Crédito: freepik

Em 2019 foi promulgado o Projeto de Lei 2119 instituindo no Brasil o Programa Cidade Amiga das Pessoas Idosas. O programa tem os mesmos objetivos da Rede Global da OMS. Até novembro de 2023, somente 35 cidades brasileiras possuíam o selo Cidade Amiga dos Idosos da OMS.

Os principais cuidados com as cidades previstos pelo programa são a acessibilidade e adequação do transporte público, a habitação adequada, adaptadas e acessíveis às necessidades específicas, a promoção da participação social e cívica dos idosos na vida comunitária e nas tomadas de decisão. Outra preocupação relaciona-se com os serviços de saúde que devem ser acessíveis e de alta qualidade, atendendo às demandas médicas e garantindo o bem-estar geral dos idosos.

O fenômeno grisalho vem ressignificando nossa existência no planeta. É preciso (re)construir as cidades tornando-as mais justas e humanas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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