Sentir o peso da inflação em nosso dia a dia é muito fácil. Basta seguirmos o nosso roteiro semanal ordinário que facilmente ouviremos, e até diremos, frases como “está tudo muito caro”, “não consigo mais comprar as mesmas coisas com o salário que ganho, estou tendo que economizar”, “tá sobrando mês no final do meu salário”, ou coisas do gênero.
A inflação pode ser definida de duas formas: 1) aumento generalizado dos preços de bens e serviços ou 2) diminuição do poder de compra da moeda. Seja qual for a definição, o resultado é deletério para toda a sociedade, mas principalmente para os mais pobres, que não possuem forma de proteção contra esse fenômeno.
Já vimos que perceber e definir a inflação é fácil, porém só isso não é o bastante. É necessário saber de onde surgem e quais os motivos que levam ao aumento generalizado de preços, para que medidas sejam tomadas a fim de coibir a diminuição do poder de compra da moeda.
O Brasil sofreu por longos anos com inflação descontrolada, a chamada hiperinflação. Vários governos ao longo de décadas tentaram combater a subida generalizada de preços, com sucessivos planos econômicos que não davam certo. Porém, esses governos sempre recorriam a medidas populista, que não atacavam o cerne do problema.
Não é incomum encontramos na história brasileira referências folclóricas a medidas como “caçar boi no pasto”, para combater a alta da carne, ou a figuras como o “fiscal do Sarney”, o cidadão que, instado por esse presidente, denunciaria abusos nas remarcações dos preços. Felizmente isso ficou no passado.
O Plano Real, de 1994, no governo do presidente Itamar Franco, foi o primeiro plano econômico em décadas que conseguiu realmente pôr fim à era hiperinflacionária. Elaborado por economistas que estudaram a fundo o problema inflacionário brasileiro, o plano trouxe medidas que atacavam e cerne da questão, tendo como principal destaque o ajuste fiscal, que foi fundamental para reduzir o déficit e conter os ajustes de preços.
Agora em 2025, após 30 anos de criação do Plano Real, o fantasma da inflação volta a assombrar o mercado brasileiro. De acordo com expectativas do boletim Focus, pesquisa realizada pelo Banco Central com investidores, o Índice Geral de Preços – IPCA de 2024 deve ficar 4,89%, deixando o índice bem acima da meta de 3% ao ano, estipulada pelo governo.
A boa - e a má - notícia é que o causador do problema já e bem conhecido: trata-se do velho desequilíbrio fiscal nas contas do governo federal. De acordo com estudo do Banco BTG, o déficit nominal, que é o resultado da receita do governo menos as despesas e o pagamento de juros, será equivalente a 7,8% do PIB em 2024 e em 2025 saltará para 8,6%.
De acordo com o Instituto de Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, a dívida pública brasileira vai continuar crescendo pelo menos até 2034. Hoje a dívida pública corresponde a cerca de 81,4% do PIB. Seguindo o caminho atual, ela estará em 91,6% em 2027 e 99% em 2029.
Esse modo gastança do governo federal gera no mínimo dois grandes problemas. Primeiro, a política fiscal expansionista pressiona a demanda, o que pressiona ainda mais a inflação e exige juros mais altos para conter a subida de preços.

A segunda consequência diz respeito à expectativa negativa do investidor – nacional e estrangeiro – em relação à capacidade de pagamento da dívida do Brasil no médio e longo prazo, o que faz com que esses investidores só aceitem comprar títulos da dívida pública brasileiro com taxas cada vez maiores.
Todo esse contexto de gastança desenfreada, inflação e juros elevados faz com que a população mais carente sofra ainda mais, tanto pelo aumento generalizado dos preços como pela potencial perda de renda, tendo em vista a provável desaceleração econômica.
Como diz um ex-governador do Espírito Santo sempre que fala sobre esse assunto, “quem cuida das contas, cuida das pessoas”. Somente um Estado com as contas equilibradas, que gera confiança na sociedade, é capaz de gerar um ambiente e um sociedade sustentável, prosperando no médio e longo prazo.
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