Autor(a) Convidado(a)
É doutorando História Social das Relações Políticas e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo

Como nos mover contra os aspectos culturais do racismo?

Os estereótipos, como discurso, cumprem um papel fundamental de concretizar os elementos discriminatórios em nossa sociedade

  • Jefferson Ferreira Alvarenga É doutorando História Social das Relações Políticas e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo
Publicado em 14/01/2024 às 10h00

Em nosso país, o racismo não apenas é estrutural, mas também é cultural. Os elementos raciais estão presentes em diversos aspectos de nossa cultura. As conversas e comentários do cotidiano revelam a supremacia cultural eurocêntrica, em sua essência, este pensamento se sobrepõe aos aspectos culturais africanos e indígenas.

Homi K. Bhabha, em seu livro "O local da cultura", esclarece que o discurso de igualdade racial no mundo ocidental é apenas uma retórica. Em geral, os grupos dominantes se apropriam do princípio de que “todos são iguais perante a lei”, com o objetivo de justificar a igualdade entre os indivíduos e refutar as políticas afirmativas, as quais promovem a inserção das etnias negras e indígenas na estrutura da sociedade.

Os estereótipos, como discurso, cumprem um papel fundamental de concretizar os elementos discriminatórios em nossa sociedade. Essa estratégia discursiva permite diferenciar entre aqueles que são banidos e aqueles que não; entre aqueles que são preguiçosos e aqueles que não; entre aqueles que são frágeis e aqueles que não. Buscando sempre a naturalização da dualidade positiva ou negativa entre tais grupos étnicos, apresentando-as como espúrias.

Essas práticas corroboram com as práticas discursivas da hierarquização cultural e racial, impedindo o reconhecimento das diferenças culturais. Além disso, o estereótipo constrói uma concepção de inferioridade e identidades negativas nos indivíduos das etnias negras e indígenas.

Racismo
Combate ao racismo. Crédito: Divulgação

No entanto, nos tempos atuais, as identidades negras e indígenas recriam novas identidades positivas, sobre si mesmas, refutando antigos estereótipos da colonialidade. Desse modo, as concepções de inferioridade étnica, as quais não cabiam no Estado-Nação, foram ressignificadas, passando elas a disputar o campo simbólico positivo da nossa sociedade.

Para nos movermos contra os aspectos culturais do racismo, é preciso criar novas narrativas, elaboradas por aqueles que vivem nesse sistema discriminatório. Portanto, a educação escolar pode ser o caminho para que os aprofundamentos dos estudos sobre as questões étnicas, seja a história da escravidão negra e indígena, seja o estudo das contribuições dessas culturas para a formação de nossa nação, possa concretizar a importância desses grupos em nossa sociedade

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Racismo Negro Povos Indígenas

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.