No decorrer da minha vida, muitas vezes ficava observando meu pai, um artista plástico, com o pensamento longe olhando a tela em branco à sua frente, em cima de um cavalete. Não conseguia, ainda, entender aquela fixação no “vazio”. Até que em um passe de mágica, tudo começava a se transformar e na mistura de cores surgia finalmente uma cena, que eu interpretava conforme a minha emoção. E acredito que assim seja com todas as pessoas diante de uma obra de arte. Acho que a partir daí, comecei a entender a força da comunicação através da imagem.
E hoje, mais do que nunca, percebo, principalmente como mulher, que além de todas as nossas lutas inerentes em busca da igualdade de direitos, conhecer as técnicas para se comunicar de forma assertiva, que cada vez mais toma força em tempos de redes sociais, pode, também, contribuir para o nosso empoderamento, porque como diz uma grande amiga minha, que atua na área de consultoria de imagem e visagismo, a imagem não é só estética, é comunicação. E acredito, sim, que essa construção, através de técnicas comprovadas mundo afora, pode ajudar, e muito, nessa luta.
Meu pai sempre foi muito eclético em suas obras de arte. E no decorrer de seus 80 anos de vida, pintou também muitas mulheres. Sou apaixonada por seus quadros, principalmente aqueles com cenas do cotidiano, como as mulheres trabalhando na colheita de café. Aliás, é impossível dissociar a arte de qualquer luta através dos tempos. Na minha interpretação, essas telas de João Ninguém (como muitas vezes assinava) mostram a força e a beleza daquelas mulheres. Mas a vida por trás da imagem ali enfatizada, que está obviamente oculta, depende da interpretação de cada um.
Estamos no mês das mulheres, e essa reflexão é necessária porque a comunicação assertiva, a meu ver, pode, caso a pessoa assim deseje, devolver a ela a autoestima e o “poder” de se transformar em uma “Mulher Maravilha” capaz de governar o mundo e lutar contra todas essas injustiças. Pode fazer ela se sentir, portanto, mais empoderada nesta luta de todas nós. E não há mal nenhum nisso.
Certa vez, li um depoimento de uma mulher, Amy Winter, que disse não existir apenas um feminismo. Que na verdade ele oferece muitas escolhas, mas nem todas elas são feministas. “O feminismo, por exemplo, entende que maquiagem como uma imposição é algo opressivo. Mas maquiar-se não é feminista. E não maquiar-se, tampouco. Eu nunca deixei de considerar feminista uma mulher que se diz feminista por eu ter orgulho de não usar maquiagem (e nem sei se tenho orgulho, só sei que não uso). Como se eu, ao não usar maquiagem, estivesse condenando a feminista que usa maquiagem. Mas eu não me importo se alguém usa maquiagem. Só quero poder continuar criticando uma sociedade capitalista que obriga o uso de maquiagem”.
E essa é a grande questão, aprender as técnicas da comunicação assertiva não torna a mulher menos engajada em todas as lutas históricas que envolvem a equidade de gênero. Ela pode sim, saber qual é a melhor maquiagem, as cores mais indicadas, o corte de cabelo mais adequado, o óculos que melhor cai com as linhas do seu rosto, e assim sentir-se mais empoderada para enfrentar tanto os seus desafios internos, quanto os externos. E ainda, quem sabe, ajudar outras mulheres. É apenas uma questão de escolha.
É muito improdutivo quando o debate se nivela por baixo e transforma esse movimento das mulheres em busca da autoestima, através da comunicação assertiva, como algo antifeminista, como muito se vê por aí. Afinal, a autoconfiança oriunda da segurança estética ajuda a transformar diversos aspectos da vida, o que pode ser primordial para impor e tomar decisões sobre relacionamentos, assim como também na área profissional e pessoal, e muitas outras.
Penso que se é um homem a lançar mão dessas ferramentas da comunicação assertiva, será que esta discussão entraria em pauta?
É claro que todo esse movimento não se resume às questões estéticas, mas a importância de nós, mulheres, nos sentirmos belas não pode jamais ser desprezada e não nos faz, definitivamente, alienadas a luta das mulheres por igualdade de direitos ao longo da história.
E a comunicação assertiva nesse caminho pode, sim, ser relevante. E voltando ao quadro na plantação de café, pintado pelo meu pai em priscas eras, sempre observei um leve toque de maquiagem nas faces das mulheres enquanto trabalhavam.
Aliás, vale ressaltar que estudos indicam que o lilás comunica igualdade e libertação. Vamos à luta!
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