Ir ao Vietnã foi uma experiência especial. Visitar este belo país do Sudeste Asiático, cujas memórias da nossa adolescência remetem a imagens trágicas de uma guerra prolongada, e ver o desenvolvimento atual faz pensar o quanto lutar pela paz vale a pena. E apesar dos quase 17 mil quilômetros que nos separam, das 10 horas de diferença no fuso horário ou das mais de 28 horas de voo para chegarmos lá, há mais convergências entre o Espírito Santo e o Vietnã do que se pode supor.
Estivemos lá participando da inédita missão técnica “Vietnã Coffee Experience”, organizada pelo Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), com representantes do comércio exterior, do Governo do Estado e produtores capixabas. O Vietnã é o principal produtor mundial de café canéfora, que inclui o nosso conilon e o robusta daquele país. Juntos, Brasil e Vietnã respondem por quase 70% da produção global dessa espécie de café, sendo que o Espírito Santo é responsável por 75% da produção brasileira.
Foram oito dias de imersão total. Participamos de conferências, visitamos lavouras e estruturas de beneficiamento, armazenagem e comercialização. Conhecemos fábricas de solúvel e a infraestrutura portuária do país.
O Vietnã tem uma estrutura fundiária na qual predominam micropropriedades. Os 730 mil hectares dedicados ao plantio de café (30 mil são de café arábica) são ocupados por mais de 600 mil estabelecimentos rurais. Ou seja, um pouco mais de um hectare por propriedade. Para termos uma medida de comparação, no Espírito Santo 60 mil produtores produzem o equivalente a mais da metade da produção do Vietnã.
Do ponto de vista tecnológico, o parque cafeeiro capixaba é mais desenvolvido do que o vietnamita. Por lá, praticamente inexistem ou são frágeis as práticas de condução de lavouras, podas, nutrição, irrigação e utilização de clones superiores. Podemos estimar uma defasagem de pelo menos duas décadas em relação ao nosso parque cafeeiro de conilon.
Aqui temos bases sólidas de pesquisa, com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). Lá, predominam experimentações realizadas pelos próprios cafeicultores.
O baixo nível tecnológico das lavouras cafeeiras do Vietnã ocasiona baixa renda para os cafeicultores. Para ampliar a remuneração, a associação do plantio de café com pimenta do reino e a fruta “durian” (uma fruta espinhosa, semelhante a jaca no aspecto, muito encontrada no Oriente) vem ganhando espaço, tanto em plantios isolados quanto na renovação das lavouras. Apesar da pujança, o parque cafeeiro vietnamita tende a não crescer ou mesmo reduzir, no médio prazo.
Outro aspecto que tende a limitar o crescimento e a modernização técnica da cafeicultura vietnamita é o regime de propriedade. Lá toda a terra é propriedade do Estado, o produtor arrenda a terra do governo. A autorização para produzir nas micropropriedades funciona quase como um programa de renda mínima para uma parte considerável da população desse país de 100 milhões de habitantes, que vive em um território que é de aproximadamente 60% do estado de Minas Gerais.
No campo da infraestrutura e logística, houve um avanço muito grande por lá, especialmente na estrutura portuária. Neste quesito estão à nossa frente. Contudo, com os investimentos em curso na infraestrutura portuária do Espírito Santo a tendência é de redução desta desigualdade.

Por tudo que observamos, não há dúvidas que o principal arranjo produtivo do agro capixaba, representado pelas atuais 60 mil propriedades cafeeiras de conilon, é competitivo e tende a ser cada vez mais. Temos planejamento e integração de ações entre os setores público e privado. Temos geração e socialização de conhecimentos e tecnologias. Temos a capacidade empreendedora dos nossos cafeicultores e cafeicultoras.
Para concluir, estamos convictos de que nos próximos cinco anos o Brasil, liderado pelo Espírito Santo, vai ultrapassar as 26, 27 milhões de sacas produzidas pelo Vietnã. E o nosso conilon capixaba encantará ainda mais o mundo pela qualidade e sustentabilidade, seja na forma de grão cru, seja processado na forma de solúvel.
Vamos em frente!
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.