O novo coronavírus, identificado na China no final de 2019, possui um alto potencial de contágio, e sua incidência aumentou exponencialmente ao longo dos meses seguintes. Sua transmissão generalizada foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia em 11 de março de 2020. Até o fim de abril, a Covid-19 resultou em mais de 150 milhões de casos e 3,2 milhões de mortes.
Desde então um novo modo de viver passou a ser comum em todo o mundo. Com ele houve um aumento da exposição à estressores, associados à uma variedade de fatores como: o medo da doença em si, sentimentos de frustração pelos planos cancelados, tédio pelo isolamento social, insegurança financeira e até mesmo insegurança quanto à qualidade das informações recebidas.
Não bastasse isso, temos ainda o impacto de milhares de processos de luto seguindo um rumo mal-resolvido, muitos sem sequer conseguir ver pela última vez seu ente querido. De outro lado, a impossibilidade de vivenciar fatores aliviadores como habitualmente poderíamos fazer, como momentos de lazer, atividades físicas coletivas e reuniões sociais tornou tudo mais pesado, muitos procurando alívio em caminhos perigosos como álcool e descontrole alimentar.
Com a balança tendendo claramente para o lado da exaustão emocional, ficou complicado experimentar prazer e satisfação, nas atividades laborais, acadêmicas ou sociais. Muitos já não se reconhecem, percebendo claramente que esse estresse crônico não tem passado em branco.
A ansiedade é uma emoção natural, sempre ativada quando precisamos nos adaptar a algum evento, bom ou mau, que altere nossa rotina. Contudo essa capacidade de se adaptar tem limites e, se ele é ultrapassado, o enfrentamento dessas situações fica prejudicado. Já nesse momento alguns sinais de que há algo errado podem aparecer: irritabilidade, alterações no sono, piora ou aparecimento de quadros como úlceras, gengivites, psoríase, hipertensão arterial e disfunções sexuais, entre outros.
Nessa hora, entrar em contato com o problema que está ocorrendo, buscando ser racional e resolutivo, pode ajudar muito, mas para isso não conte com o vírus, ele é implacável! Além de provocar sintomas respiratórios e gastrointestinais, está claro hoje que o SARS-CoV-2 (vírus que causa a Covid-19) é capaz de causar muito mais que a perda de olfato no sistema nervoso.
Existem sintomas neuropsiquiátricos provocados pela doença a curto e a longo prazos, promovendo sequelas que podem durar por meses, mesmo em adultos jovens, não relacionadas com o grau de acometimento pulmonar que o paciente apresentou. Tudo isso sugere que o envolvimento cerebral persiste mesmo ao final do quadro agudo da Covid-19. São particularmente prejudicadas a atenção e a memória, vitais para que seja elaborada uma resposta adequada nesse momento.
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A explicação para esse impacto tem relação com as modificações provocadas pelo quadro inflamatório no sistema nervoso central, com alterações nos níveis de vários neurotransmissores, levando também a piora de quadros de ansiedade e depressão pré-existentes ou aparecimento de novos quadros. Certamente isso vai impactar nos índices de suicídio, como alguns estudos já demonstram, uma vez que este é o desfecho comum de vários processos de adoecimento mental, mas também está relacionado à diminuição do repertório cognitivo do indivíduo. Permanecer atentos a esses sintomas e procurar logo uma reabilitação funcional pode diminuir a carga da doença ao longo dos anos e seus impactos na sociedade.
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