Depois de muito segurar, o governo Jair Bolsonaro não conseguiu inviabilizar a realização da CPI da Covid, que não só está acontecendo, como tem sido acompanhada constantemente pelos brasileiros. Se engana quem pensa que o poder da CPI é apenas o de investigar e fiscalizar. O verdadeiro peso de uma Comissão Parlamentar de Inquérito é o de exposição e, com as ferramentas digitais, o alcance tem uma capacidade inimaginável.
Se antes a gente esperava o Jornal Nacional para saber o que aconteceu ao longo do dia de trabalho da comissão, hoje, com as múltiplas redes que cobrem a CPI, a transmissão das informações é instantânea. Como os grandes meios de comunicação não detêm mais o monopólio da informação, a abrangência é cada vez maior e o palco das CPIs cada vez mais atraente.
As Comissões Parlamentares de Inquérito têm potencial para destruir reputações, mas, por outro lado, para construí-las também. Alguns senadores já entenderam isso. E o caso do governista Marcos Rogério. O senador de Rondônia tornou-se o porta-voz do discurso bolsonarista na Comissão graças à sua atuação nas redes sociais.
Aproveitando o palco que a CPI lhe dá, o senador intensificou seu conteúdo, principalmente no Twitter e no Youtube. Com isso, Marcos Rogério se comunica diretamente com a base bolsonarista e imprime seu ritmo dentro da CPI, mas principalmente fora dela.
Já o relator Renan Calheiros recebe um acompanhamento em tempo real com a repercussão de suas falas e com isso modula seu discurso conforme o mood da internet. Além disso, conta com internautas que o ajudam a conferir informações dadas à comissão. Isso é a prova de que redes sociais não só comentam, como pautam a CPI.
Os senadores de oposição também usam suas redes para manter a audiência ativa. Os discursos feitos por eles não visam apenas ao sucesso na comissão, mas também ao hit na internet. Nesse caso, as suas redes, além de fortalecerem suas próprias imagens, enfraquecem também a do governo. Não à toa a última pesquisa Ipec com cenários eleitorais mostra um aumento de 14 pontos na rejeição do presidente, número significativo e que, sem dúvidas, foi influenciado pela CPI da Covid.
Toda CPI é um espetáculo político e, como todo espetáculo, precisa de uma narrativa que mexa com a emoção dos espectadores. Assim, quanto mais emoção, mais holofotes são direcionados aos seus integrantes.
A já conhecida frase "sabemos como uma CPI começa, mas jamais como termina" não poderia ser mais verdadeira. Isso porque, a pouco mais de um ano da eleição, a tração eleitoral de Bolsonaro depende também da capacidade de controlar os estragos políticos e de imagem produzidos pela CPI.
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Enquanto o Palácio do Planalto se preocupa, os senadores, tanto da base, quanto os de oposição, se sentem confortáveis em meio ao palco central e esperam que as cortinas jamais se fechem para eles.
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