O Espírito Santo decretou situação de emergência em saúde pública por conta da dengue e se vê diante de uma crise devido ao contínuo aumento nos casos. Embora a dengue apresente um comportamento endêmico desde a década de 80, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) registrou alarmantes 123.243 casos notificados e 17 óbitos em decorrência da doença, segundo dados divulgados no dia 4 de abril, no painel de monitoramento.
Fato é que a proliferação do mosquito Aedes aegypti encontra terreno fértil em ambientes com água parada, limpa ou suja, podendo até mesmo se proliferar em caixas d’água sem a devida vedação.
A ausência de saneamento básico é vivida por milhões de brasileiros, sabe-se que a gestão inadequada de resíduos sólidos, a falta de acesso à água tratada de forma regular e a ausência de um sistema de coleta e tratamento de esgoto se somam a habitações precárias e a degradação ambiental para ampliar ainda mais o crescimento da doença.
Seguindo o Painel do Saneamento, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, mais de 634 mil pessoas no Espírito Santo ainda vivem sem acesso à água tratada, e há também a parcela da população que conta com uma frequência insuficiente de recebimento de água, acarretando o uso de reservatórios por milhares de pessoas. Assim, o armazenamento do recurso hídrico de forma inadequada consolida um cenário preocupante para a expansão da doença.
Considerando que 40% da população do Estado vive sem a coleta de esgoto, pode-se afirmar que a ausência do saneamento potencializa os criadouros de mosquito, já que sem o correto destino do efluente, este acaba sendo lançado in natura ou nos corpos hídricos.
Embora a dengue não tenha endereço certo e acometa todas as parcelas da população, é notório que as comunidades mais vulneráveis arcam com o maior peso da doença. Devido à falta de saneamento, acesso à saúde, habitações precárias e disparidades socioeconômicas, elas estão mais expostas à doença e suas consequências.
Ainda que a dengue impere como um problema de saúde pública, também causa profundas consequências econômicas. Além do valor irreparável com a perda de vidas, altas cifras devem ser vinculadas ao tratamento e à sobrecarga do sistema de saúde, além das perdas de produtividade da população economicamente ativa.
O afastamento das atividades laborais representa impactos profundos na subsistência das famílias como um todo, além da produtividade para as empresas. Portanto, investir em saneamento, na urbanização das áreas mais vulneráveis e no acesso a uma infraestrutura de qualidade é também sustentabilidade econômica, cabendo à sociedade como um todo um olhar apurado sobre o tema.
As quatro décadas em que esse tema é rememorado anualmente nos fazem indagar: até quando seguiremos vivendo a consequência da falta de políticas públicas que promovam a inclusão e a saúde da população, principalmente as mais vulneráveis?
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