“Não basta fazer coisas boas. É preciso fazê-las bem.” Essa frase de Santo Agostinho é um excelente lema para a expressar a evolução do café de qualidade no Espírito Santo. É uma história que vem de longe, num movimento envolvendo muita transparência, articulação do setor produtivo e boas políticas públicas.
E só para dar uma prova (sem trocadilho), vale a pena mencionar os resultados da última Semana Internacional do Café (SIC), que é uma das maiores feiras de cafés especiais do mundo. Em 2023, dos dez melhores cafés especiais do Brasil, sete foram capixabas. Quatro entre cinco no conilon e três entre cinco no arábica. E, de quebra, fomos campeões nas duas categorias.
Já na década de 1960, houve algumas ações para tentar elevar a produtividade e a qualidade do café capixaba, visando tornar a produção economicamente sustentável. Mas a política de erradicação dos cafezais acabou prevalecendo. A partir da década de 1970, a introdução de novas técnicas agrícolas, a expansão do cultivo do conilon, o aumento do consumo interno de café e o desenvolvimento da indústria brasileira de café solúvel deram novo impulso à produção cafeeira no Espírito Santo. Mas a questão da qualidade ainda não era o foco.
Na década de 1990, inicia-se um novo ciclo, através da articulação entre as antigas empresas públicas que deram origem ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), as prefeituras e o setor produtivo, com papel de destaque para o Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) e o Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café (CETCAF).
Em 1993, foi lançado o Programa de Revitalização da Cafeicultura Capixaba (Recafé) pela Secretaria de Estado da Agricultura. O foco principal era a melhoria do café arábica das montanhas, mas também do conilon, e o enfrentamento da broca do café. E o mote era a revitalização da cafeicultura capixaba, com aumento da produtividade, melhoria da qualidade e, especialmente, com a incorporação de técnicas adequadas e tecnologia no processo de produção.
Em 1999, é lançado o Programa de Sustentabilidade dos Cafés das Montanhas que, através do mapeamento e análise da produção, orientava os caminhos e os investimentos necessários para melhorar a qualidade dos cafés das montanhas e sua inserção no mercado nacional e internacional.
Mas a grande virada se inicia a partir do primeiro Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Pedeag), realizado em 2003, quando tive a honra de ser o secretário da Agricultura do Espírito Santo, no qual o café teve destaque especial.
Naquele momento o café produzido no Estado ainda era, em geral, considerado um café de baixa qualidade. A estratégia combinou a continuidade dos investimentos em tecnologia com a busca de maior inserção da nossa cafeicultura no mercado internacional. Trouxemos para o Espírito Santo inúmeros concursos de cafés especiais. Da mesma forma trouxemos para conhecer o estado os grandes players internacionais do café na ocasião, como as italianas ILLY e Lavazza e a japonesa Ueshima Coffe Co (UCC).
De lá para cá tivemos uma evolução contínua do café de qualidade, como demonstramos anteriormente, pelo nosso domínio na Semana Internacional do Café. A cafeicultura é o principal gerador de emprego e renda rural em nosso Estado. São 75.325 propriedades, que correspondem a quase 70% do total.
O complexo cafeeiro responde por aproximadamente 60% das exportações do agronegócio capixaba. E o crescimento segue vertiginoso. Maior produtividade e qualidade significam postos de trabalho melhores e mais renda para o produtor e para os trabalhadores.
A quarta edição do Pedeag, para o período 2023/2032, trouxe um novo fundamento na continuidade dessa caminhada de sucesso. O da sustentabilidade e das práticas ESG na produção cafeeira. O Programa de Sustentabilidade da Economia Cafeeira tem metas ousadas em termos de produtividade, aumento de cafés superiores e adequação socioambiental das propriedades. Um programa pioneiro no Brasil. Além da proteção do meio ambiente e do nosso futuro, isso significa mais mercado e maior agregação de valor.
Existe uma máxima que diz que não se deve “discutir com o sucesso, pois ele é autoexplicável". Mas é sempre bom lembrar que ele é fruto de muito trabalho, da cooperação ativa entre o setor público, os produtores e a sociedade. E sobretudo da persistência em fazer bem-feito e manter o Espírito Santo no rumo certo.
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