Na última década, os serviços de streaming prometiam revolucionar o consumo de entretenimento, oferecendo uma alternativa acessível e democrática à televisão tradicional. A promessa era simples: democratizar o acesso a conteúdo, dar ao usuário o poder de escolha e acabar com a tirania dos canais de TV a cabo.
Contudo, com o passar dos anos, o mercado de streaming se fragmentou drasticamente. O surgimento de novos players resultou em uma proliferação de plataformas, cada uma com seu próprio catálogo exclusivo. Essa multiplicação de serviços trouxe também a necessidade de múltiplas assinaturas para acessar todo o conteúdo desejado, algo que gradualmente elevou os custos para os consumidores.
Além dos preços crescentes, observamos uma prática que remete diretamente aos combos da quase falecida TV a cabo: a exclusividade de conteúdo. Séries, filmes e eventos esportivos são frequentemente restritos a uma única plataforma, forçando os usuários a assinarem vários serviços para ter acesso completo. Essa exclusividade não só contradiz a promessa inicial de democratização do acesso, mas também cria barreiras econômicas que limitam a diversidade de opções para muitos consumidores.
A adição recente de planos com publicidade em alguns serviços de streaming é outro fator que lembra a televisão tradicional. Hoje, mais da metade dos serviços trabalham modelos híbridos que mesclam assinaturas pagas com anúncios, oferecendo uma experiência menos ideal para aqueles que buscam uma visualização contínua e sem interrupções.
O que começou como uma utopia de entretenimento ininterrupto agora se aproxima cada vez mais do modelo que os serviços de streaming inicialmente se propuseram a superar.
Essa evolução do mercado de streaming reflete um ciclo preocupante. O que antes parecia ser uma libertação dos pacotes complexos e fechados da TV fechada, agora se assemelha cada vez mais a ela, tanto em estrutura quanto em custo. Os consumidores, que inicialmente se beneficiaram de uma vasta biblioteca de conteúdo por um preço único e acessível, agora enfrentam um dilema similar ao enfrentado décadas atrás: pagar preços elevados ou ficar sem acesso a certos conteúdos.
Não se trata apenas de uma percepção isolada, mas de uma tendência generalizada. Os recentes aumentos nos preços dos serviços oferecidos pela Netflix e Disney+ são apenas os exemplos mais visíveis dessa realidade: as plataformas de streaming estão ficando cada vez mais caras. Se antes o vídeo sob demanda representava uma opção mais econômica para o entretenimento, agora o setor enfrenta uma inflação que já ultrapassa os 40%.
No mercado norte-americano, gigantes do entretenimento já anunciaram combos de streming de diferentes grupos, dando ao consumidor a possibilidade de contratar mais de um serviço por um preço mais atrativo. No Brasil, Disney+ e Star+ se unem este mês e serão um só – por um preço um tanto quanto questionável. Mais uma vez, uma velha lembrança dos pacotes de canais por assinatura.
Para o futuro do streaming cumprir sua promessa inicial, é necessário um retorno aos princípios que o tornaram atraente. Modelos mais transparentes e justos, com menos exclusividade e mais opções acessíveis, poderiam reviver o que um dia nos foi prometido.
Sem isso, corremos o risco de permanecer presos em um ciclo de repetição, onde o novo se torna o velho e a promessa de democratização do entretenimento se dissipa na névoa das práticas comerciais tradicionais, caso contrário: bem-vinda de volta, TV a cabo.
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