Rimaldo de Sá*
Poucas coisas têm mais potencial transformador do que a atmosfera criada pela torcida em um jogo de futebol. Ela faz parte do espetáculo e pode mudar o rumo de uma partida, contagiar os jogadores e estimular uma reação. E, às vezes, quando o time não corresponde dentro de campo, o clima na arquibancada se basta e a torcida celebra a si própria, cantando “Que torcida é essa!”. Essa experiência é o que todo torcedor busca na arquibancada. Mas não é isso que ganha um campeonato. Assim também é no dia a dia dos negócios.
Alguns segmentos da nova economia não têm resultados concretos para apresentar, mas constroem uma imagem de que estão realizando sem, de fato, implementar. Há muitos “empresários de Instagram”, mais preocupados em fazer stories do que em realizar. Essas pessoas se alimentam de elogios mútuos. Tal qual a torcida que se exalta quando o time não está no seu melhor momento, elas fazem barulho entre si para suprir a falta do gol.
Construir um ecossistema e mudar uma cultura demandam entregas reais. Empreendedores que têm capacidade de entrega e se apresentam para o jogo ganham destaque no cenário de transformação mundial.
Portugal, destaque recente em inovação, tem a participação dos empreendedores como fundamental no seu modelo. Em relatórios sobre o grau de inovação de 31 economias europeias, o país vem encostando nos líderes. E nos destaques por áreas específicas de inovação, lidera no quesito “pequenas e médias empresas inovadoras”.
Isolados, universidades, políticas públicas e investidores não conseguem êxito se não tiverem a peça que tira o projeto do papel. Pois, por mais genial que seja uma ideia, ela não é nada se não for implementada.
Walter Lídio, dirigente empresarial, costuma dizer que só duas coisas mudam o mundo: a educação e o empreendedor. Inovação só será realidade quando houver ambiência completa. A torcida é parte fundamental da atmosfera, mas não decide o jogo. É o empreendedor quem briga para que a entrega aconteça.
Quando líderes que têm o poder de construção desse modelo ignoram a importância do realizador e se deixam influenciar por discursos, todos perdem. É fundamental sair da bolha, convidar as pessoas a participar e reconhecer a importância do empreendedor como o motor das ações efetivas.
Dom Quixote, quando não se contentou em sonhar com as histórias que lia, sabia a importância de realizar. O personagem de Miguel de Cervantes se lançou na aventura de ser protagonista da vida que idealizou e, mesmo em seu delírio, dizia: “Só quem faz mais que outrem é que é mais que outrem”.
Empreender é, acima de tudo, realizar. E não se faz isso da arquibancada.
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* O autor é empresário da área de comunicação, publicitário e entusiasta da inovação e do empreendedorismo
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