Autor(a) Convidado(a)
É médico psiquiatra

Depressão: como enfrentar as formas resistentes e de difícil tratamento?

Pode levar um certo tempo para encontrar o tratamento eficaz para a depressão de difícil tratamento por ser um processo de tentativa e erro

  • José Luis Leal de Oliveira É médico psiquiatra
Publicado em 19/09/2024 às 09h00

A depressão é uma condição de saúde mental complexa e heterogênea em suas apresentações, evoluções e respostas ao tratamento. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas são acometidas pela doença no mundo inteiro.

Na América Latina, o Brasil é líder em casos depressivos e ocupa o segundo lugar nas Américas, sendo aproximadamente 5,8% da nossa população, ou seja, 12,4 milhões de brasileiros com depressão. A literatura médica nos direciona a alguns tratamentos para o enfrentamento da doença, porém a minoria dos pacientes consegue acesso a tratamentos adequados, e há casos de depressão muito resistentes e de difícil tratamento, casos que podem apresentar piora com progressão da doença e prejuízos, apesar dos esforços terapêuticos.

A forma mais comum de depressão é a unipolar, que afeta a maioria dos pacientes, também chamada de transtorno depressivo maior. Embora a causa seja frequentemente atribuída a fatores genéticos, também pode ser desencadeada por estressores, tais como: traumas, perdas significativas, estresse intenso ou duradouro e até secundária a doenças orgânicas.

Aproximadamente um terço dos pacientes com depressão apresentam resposta ao uso de um único medicamento, enquanto mais de um terço necessita de associação de medicamentos e psicoterapia, enquanto o terço restante tem resistência aos tratamentos convencionais e exigem mais recursos.

É importante fazermos a distinção de depressão de difícil tratamento e depressão resistente a tratamento. Consideramos haver um episódio de depressão de difícil tratamento, quando as abordagens medicamentosas e terapêuticas, com antidepressivos e psicoterapia, não se mostram eficazes.

Já a forma resistente aos tratamentos muitas vezes sugere a presença de fatores adicionais, como resistência biológica, imprecisões diagnósticas, limitações das terapias atuais, variáveis psicossociais, histórico de maus-tratos ou trauma na infância, insatisfação no trabalho, comorbidades físicas e mentais, transtornos de personalidade, uso concomitante de álcool e drogas e não adesão ao tratamento.

Em termos de estratégias medicamentosas, há opções, como por exemplo: para aqueles que já tentaram antidepressivos sem sucesso, há possibilidade de ajustes na dose, mudança para um antidepressivo diferente ou a combinação de diferentes classes de medicamentos. Também a submissão a testes farmacogenéticos podem indicar como o corpo processa os medicamentos, auxiliando na personalização do tratamento.

Menina com depressão, jovem com depressão, depressão, depressiva, deprimida
Jovem com depressão. Crédito: Freepik

Ainda falando da depressão resistente, outra importante ferramenta para o tratamento é a psicoterapia, mas também a meditação mindfulness, e mudanças no estilo de vida, incluindo vida ativa, alimentação saudável baseada em plantas, combate ao uso de álcool, nicotina e drogas, higiene do sono, manejo do estresse, e vida social e afetiva ativa. São estratégias que comprovadamente potencializam resposta ao tratamento.

Diferentes modalidades, como a terapia cognitivo-comportamental e terapia comportamental dialética, por exemplo, podem ser aplicadas para ajudar os indivíduos a entender e enfrentar os padrões de pensamento e comportamento que contribuem para a depressão.

Para casos mais graves, existem opções de tratamento mais avançadas aprovadas por órgão regulatórios nacionais e internacionais, como a estimulação magnética transcraniana, eletroconvulsoterapia, escetamina e estimulação do nervo vago.

Embora alguns possam ser considerados medidas invasivas, esses tratamentos podem fornecer alívio significativo para aqueles que não responderam a outras abordagens. A orientação de um profissional de saúde qualificado é essencial para definir a utilização de um ou mais desses tratamentos mais específicos.

Por fim, é importante ressaltar que ainda estamos distantes de solucionar todas as necessidades dos nossos pacientes, apesar de termos avançado muito nos últimos anos e estarmos desbravando novos circuitos neurais, com diversas intervenções terapêuticas inovadoras em uso e outras que devem ser aprovadas em breve.

Mas pode levar um certo tempo para encontrar o tratamento eficaz para a depressão de difícil tratamento por ser um processo de tentativa e erro. Perseverança, paciência, colaboração entre o paciente e o profissional de saúde são essenciais para o sucesso do tratamento nesse processo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Depressão OMS Saúde mental

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.