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É escritor, diretor no IHGES e subsecretário de Cultura de Vila Velha

Dia Nacional do Samba: Unidos da Piedade e a inclusão do gênero no ES

Tradição do samba na cidade de Vitória esteve intimamente ligada aos trabalhos realizados por essa agremiação e sua comunidade

  • Manoel Goes Neto É escritor, diretor no IHGES e subsecretário de Cultura de Vila Velha
Publicado em 02/12/2022 às 03h00

samba é um gênero musical derivado de danças de raízes africanas, surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras. A popularização das escolas de samba na década de 1930 e também da reprodução das canções desse gênero musical pelo rádio contribuiu com a difusão do samba pelo país. Com o passar do tempo vimos surgir subgêneros, como samba-enredo, pagode, bossa nova, entre outros.

Dentre suas características originais, está sua forma em que a dança é acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação autêntica, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano e levado, na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro pelos negros, que trazidos da África, se instalaram na então capital do Império. As comunidades baianas se estruturaram de forma espacial e cultural e tiveram nas velhas senhoras, as “tias” que exerciam um papel catalisador na comunidade, tendo na Tia Ciata destaque e o seu elo central.

A primeira geração do samba, Donga, João da Baiana e Pixinguinha, entre outros, tinham a marca do maxixe e do choro, e a partir das comunidades negras do centro do Rio, principalmente nos bairros da Saúde e da Cidade Nova, irradiou esta forma para toda a vida carioca e, posteriormente, para toda a vida musical brasileira.

Foi instituído o dia 2 de dezembro como o Dia Nacional do Samba, em homenagem ao grande sambista mineiro Ary Barroso, no dia da sua visita, nos anos 30, a Salvador, na Bahia. A gravação da música “Pelo Telefone” (1917) é considerada um marco da história moderna e urbana do samba, tido como o primeiro samba a ser gravado no Brasil (segundo os registros da Biblioteca Nacional).

Autoria reivindicada pelo grande ícone do samba Donga, com coautoria atribuída a Mauro de Almeida, na verdade, era uma criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa de Tia Ciata, mas acabou registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional. Foi a primeira composição a alcançar sucesso com a marca de samba e contribuiria para a divulgação e popularização do gênero. A partir daquele momento, o samba urbano carioca começou a ser difundido pelo país, adquirindo um lugar próprio no mercado musical.

Carnaval 2022 - Desfile da escola Unidos da Piedade
Desfile da escola de samba Unidos da Piedade no Carnaval de Vitória 2022. Crédito: Fernando Madeira

Os Morros da Fonte Grande e Piedade são a gênese do samba capixaba, onde foi fundada a primeira escola de samba do Estado, “Escola de Samba Unidos da Piedade”, em clara demonstração do alcance da disseminação e influência do samba carioca e suas vertentes aqui em “terras capixabas”, tomando configurações próprias, resultantes da miscigenação cultural. E que através dos meios de comunicação, como rádio e jornais, coroaram o Morro da Fonte Grande como “berço” do samba capixaba.

O trajeto que liga os morros da Fonte Grande e Piedade ao Centro de Vitória traz a marca da história do surgimento do samba, onde encontramos, ainda hoje, moradores antigos que vivenciaram muito de tudo isso. O povoamento dos morros da Piedade e da Fonte Grande datam do final do século XIX, junto ao período de proclamação da República e Abolição da Escravidão. Nesse processo é predominante a presença da população negra, formada na época por ex-escravizados e seus descendentes, algo evidente até hoje. No início do século 20, aumenta ainda mais o fluxo de moradores.

Com a integração do samba e sua aceitação como movimento popular por toda a sociedade, e sendo a Escola de Samba Unidos da Piedade e seus integrantes fundadores os pioneiros na inclusão desse gênero nas festas da capital capixaba, pode-se concluir que a tradição do samba na cidade de Vitória esteve intimamente ligada aos trabalhos realizados por essa agremiação e sua comunidade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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